Uma moça, muito
bonita e elegante na flor da idade e centro das atenções da gurizada, fazia
descaso de inúmeros pretendentes. Ela, sendo bajulada e cantada a toda hora, achava-se
a “Rainha da Inglaterra”. A menina entendia-se a mais bonita do baile, rainha
da escola, princesa primeira da cidade... Ela mantinha-se o centro dos
comentários informais dos amigos e conhecidos. A foto destaque, das colunas
sociais, recaia sobre a mesma. Uma referência de bom gosto no andar e vestir...
Um certo rapaz, muito
humilde e retraído, encantara-se como enamorado e fã. Este mantinha-se
cegamente apaixonado pela fulana. Ela, com as muitas opções, fazia o maior descaso
dele. A condição econômica-social não permitia nenhuma chance de aproximação e
muito menos possibilidades de namoro. O tempo, com o transcorrer dos meses,
anos e décadas trouxe as agruras da existência e o peso da idade.
A moça, numa certa
ocasião no ínterim do tempo, apaixonara-se por algum forasteiro. Os dois
enamoram-se e depois, de certo espaço de namoro, constituíram família. Os
filhos advieram e a obrigação de criá-los foi o centro das atenções e
preocupações. As necessidades de subsistência obrigaram o duro trabalho. A
beleza, tão efêmera e sútil, foi corroída pelo esforço e tempo. A fulana, com a
idade, viu “a formosura do corpo evaporar-se nos ambientes”. Os traços, da
outrora beleza, mantiveram-se unicamente presentes. O glamour ficou nas saudades
e reminiscências.
As décadas, em meio
aos muitos afazeres diários, transcorreram de forma rápida. Os filhos cresceram
e constituíram suas famílias. A viuvez transformou-se numa triste sina. Os rebentos,
nesta altura da existência, seguiram suas preocupações e trabalhos. A cidadã,
agora senhora idosa, viu amigos e conhecidos partiram para o descanso.
Outros, ex-colegas,
faziam indiferença com relação ao antigo relacionamento. Cada vez menos pessoal
da sua época e gente. A solidão, com a aposentadoria e os bailes da terceira
idade, tomou forma. Nenhuma parceria, nas caladas da noite, para conversar e
trocar ideias; ausência de companheiro às rodadas de chimarrão e passeio;
“falta de homem até para carregar peso e segurança”...
O antigo apaixonado,
outrora desprezado e relegado, mantinha-se ativo e solto. Este inclusive
mostrou-se disposto a recomeçar a vida. Possuía sua carência de companhia para
os afazeres diários. Este, naquele momento, servia para compartilhar os dispêndios
da idade. A solução consistiu em dar-lhe uma chance e “conviver como a muito próxima”.
As partes, para os eventos sociais, constituíram uma companhia/casal para
refazer a vida.
Os acontecimentos e
fatos tinham redimensionado certos comportamentos e gostos. A escola da vida
ensinara a dura lição! Qualquer semelhante, por mais humilde e pobre,
ostenta-se um igual e próximo. Os ventos da existência podem mudar de forma
ingrata e rápida. O impróprio de antes, agora tornara-se uma grande bênção e
companhia!
O camarada, nesta rápida passagem terrena, nunca pode afirmar
“dessa água eu não bebo”. O infortúnio, nalgum momento, reserva-nos surpresas
inimagináveis. O descarte de hoje, amanhã poderá ter sua serventia. A
satisfação e o prazer de cada dia é uma sabedoria.
Guido Lang
“Singelas Histórias
do Cotidiano da Vida”
Crédito da imagem: http://quasesemquerer.wordpress.com
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