Um certo casal,
morador das “grotas”, constituiu sua família. O sonho de qualquer homem e
mulher, unidos em matrimônio, consiste em ter filhos. Estes significam a
continuação e perpetuação familiar. Alguma companhia e segurança maior diante
das dificuldades e infortúnios da velhice. Auxílio ao maçante e oneroso
trabalho colonial. Aos rebentos revelam-se os objetivos maiores duma
existência.
Os conjugues, depois
de uns anos de convivência em meio ao manejo da terra, resolveram ter os primeiros
herdeiros. A preocupação inicial era angariar uma estabilidade
econômica-financeira básica “às encomendas da cegonha”. Rebentos significam
volumosos dispêndios monetários e estes inicialmente precisam ser ganhos como
alguma reserva. A família, “num primeiro momento da pegada”, obteve duas
meninas. Estas nasceram esbeltas, robustas e saudáveis. Os pais preocuparam-se
com a perfeição física. O sexo, naquele momento, era questão de segundo plano.
Os genitores rezaram e pediram a bênção divina, na proporção da gravidez, pela
nascença perfeita e sã dos “bênditos frutos do ventre”.
O casal, com a
família em desenvolvimento, sonhava com algum varão. O sobrenome familiar
deveria perpetuar-se no seio comunitário. Este, a umas boas décadas,
mantinha-se conceituado e inserido naquele meio colonial. O pai e a mãe, numa
despreocupação e ingenuidade rural, desconheciam maiores mistérios sobre a
definição dos sexos. Eles, como nas ocasiões anteriores, apostariam na
casualidade/sorte para gerar algum moço/varão. As duas chances iniciais tinham
sido desperdiçadas. A solução consistiria em nova aposta e reforços através de
pedidos e rezas ao Todo Poderoso.
O ancião (pai da
mãe/sogro), num final de semana, achegou-se para rotineira e tradicional
visita. Ele passeou para costumeira convivência e conversa familiar. Os
momentos envolviam os assuntos e temas mais variados. A conversação
descontraída ia e vinha. O assunto, numa altura, enveredou na abordagem das
pretensões de algum varão. O senhor, com os seus oitenta anos nas costas, falou
duma artimanha. Este, numa existência inteira, tivera uma “penca de filhos”
(entre homens e mulheres). Ele, como homem das colônias, criara milhares de
animais (entre aves, bovinos e suínos). O idoso conhecia inúmeros enigmas e
segredos da natureza (em função da contínua convivência no meio rural).
O sogrão, em determinado
momento (em particular), chamou o genro para “uma conversa ao pé de ouvido”.
Este, na sua humildade e simplicidade colonial, externou: “- Estimado familiar!
Precisas, na hora da concepção, trocar de posição na relação sexual. A
esposa/parceira não pode ficar continuamente por baixo! Ela precisa ficar por
cima e tu por baixo! O sexo incorre em mudanças nas posições!” O maridão, junto
aos comentários com a parceira, pensou e repensou as costumeiras brincadeiras e
relações amorosas.
O
receituário/recomendação, nas próximas intimidades, foram seguidas a risca. O
casal procurou inovar e fugir da rotina. A surpresa, por algumas mera
casualidade ou influência, funcionou a contento. Os nove meses de ansiosa
espera trouxeram a boa nova do varão. O plano funcionara a contento na
procriação familiar. A família tinha colocado a salvo o orgulho do sobrenome. A
dúvida persiste da real eficiência no método ou mera casualidade da natureza. O
fato, na real, tornou-se outra lorota colonial e casais redimensionaram posições.
A natureza esconde mistérios insolúveis a pequinês da
mente humana. O indivíduo nunca pode subestimar a experiência e a sabedoria do
pacato cidadão. Os conhecimentos científicos vêem-se formulados e reformulados
na proporção das hipóteses e teorias. As verdades, do momento, não passam de
certezas relativas. Singelos detalhes, no final das contas, fazem imensas
diferenças.
Guido Lang
“Singelas Histórias
do Cotidiano Colonial”
Crédito da imagem:
www.giropelopiaui.com.br
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