Um trabalhador assalariado,
nos dias úteis, ausentava-se da família. Ele, de segundas a sextas, labutava no
interior duma ferraria (duma localidade distante). Uma jornada estafante, com a
ausência de maior maquinário (sofisticado), em função do massivo emprego da
força braçal. A solda, com o manejo e remendos dos aços e ferros, deixava
exaurido os poucos funcionários.
O empregado, numa
oportunidade, achegou-se ao dono. Ele, na metade da semana, pediu uma folga (para
retornar ao lar). O empregador, na sua tradicional franqueza colonial,
perguntou as razões. Este, em forma de auto-reflexão, ainda interrogou: “- O
amigo, a casa/residência, vai sempre nas sextas-feiras e não na metade da
semana. Qual a causa do retorno antecipado?”
O funcionário, na sua
aparente ingenuidade, explanou sua preocupação e problema. Este, ao patrão, disse: “- Desconfio
da honestidade e sinceridade da minha senhora. Essas ausências prolongadas
estão causando conversas e falatórios. Penso haver ‘alguma cachorrada’ frequentando
o seio da minha casa. Quero conferir o fato in loco e de uma forma
discreta“. O proprietário, tendo o
cidadão como bom empregado, liberou-o da jornada.
Os moradores, das redondezas/vizinhanças,
sabiam do fato a algum bom tempo. Algum conhecido, “com razão de adicionar
gravetos a fogueira” ou “ver o circo pegar fogo”, deu alguma sutil indireta (sobre
a visitação imprópria, porém concedida pela parte feminina). O camarada, nesta
altura do campeonato, era razão das chacotas e falatórios. “O corno, como de
práxis, ostenta-se o último a saber da traição”.
O patrão, diante da esdrúxula
narrativa, precisou dar sua pitada/palpite. A figura de linguagem, da
cachorrada, deixou-o admirado e reflexivo (porém ostenta-se numa fala corriqueira
nas colônias). Ele ouvira alguma referência dos cochichos e comentários dos
acontecimentos. Este, numa sentença ímpar, acabou dando a solução ao caso. O
conselho, de forma curta e grossa, consistiu: “- A cachorrada encontra-se atrás
da fêmea! Ostenta-se difícil eliminar a gama de machos! A solução consiste em
descartar a cadela!”
A alternativa, diante
da realidade dos fatos, viu-se tomada cedo como resolução. O descarte adveio em forma de separação. O
casal desfez o contrato matrimonial. Cada qual retomou sua vida. Ele manteve-se como solteirão e ela refez
outro matrimônio.
Um princípio básico: os males convém eliminar a partir da
raiz dos problemas (nada de querer atacar as consequências). A franqueza ostenta-se
uma pérola, porém poucos têm o bom senso de querer ouvi-la. Agradeça, de todo o
coração, quem tem a coragem e a ousadia de dizer-lhe a verdade. As pessoas, de
maneira geral, adoram falar e fazer chacotas e conversas (pelas costas).
Guido Lang
“Singelas Histórias
do Cotidiano das Colônias”
Crédito da imagem: tatiele-tatiele.blogspot.com
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