Os colonos, como
prática agrícola, tiveram o princípio da diversificação produtiva. Uma
filosofia de não depender dum exclusivo e único produto. Alguma dezena de
culturas, ao longo dos lotes, espalharam-se no contexto das lavouras. O fato
incluía as tradicionais abóboras, melancias, melões... Elas visavam o
auto-abastecimento e mimo familiar.
Um certo morador,
próximo a estrada geral (duma vila), cultivara o tradicional aipim. Um produto,
junto ao arroz, feijão e alguma carne, ostentava-se a alimentação básica dos
cardápios familiares. Os agricultores, sem maiores exceções, trataram de plantá-lo
nas localidades afora. Duas centenas de pés, numa família, davam produção
suficiente para o consumo anual.
A mandioca, no
interior da roça, ganharia a companhia dos “pés” (plantas) de melancia. Esta,
com a sombra alheia, adorava a consorciação. As volumosas frutas, numa aparente
brincadeira de esconde-esconde, puderam proteger-se da excessiva insolação. O
plantador, em intervalos de tempo, percorria o interior da lavoura. Este
dava-se a alegria e satisfação de apreciar as belas e excepcionais frutas.
O colonial, com a massiva
adubação (do solo arenoso), viu a recompensa do esforço e trabalho. As plantas agradaram-se
do mimo e correspondiam as expectativas. A vizinhança, como sua ousada gurizada,
deparou-se com as intenções da cobiça e pilhagem. Os malandros, com o amadurecimento
das frutas, planejaram incursões noturnas ao local. Estes, a semelhança do proprietário,
almejaram degustar uma e outras boas melancias. As volumosas frutas
constituiam-se num convite a transgressão.
O roubo de melancias,
no círculo colonial, era uma brincadeira e prática costumeira. Os plantadores,
na proporção de não danificar/estragar, davam a mínima (com o sumiço de algumas).
A abundância e fartura, de maneira geral, nem denunciava a falta de umas e
outras. Alguns apreciadores, de boas distâncias, advinham na surdina para
incursionar nas lavouras alheias. A prática, no primeiro conchilo do plantadores,
acontecia nas caladas do dia e, de preferência, nos finais de semana.
O proprietário, da
beira da estrada geral, resolveu assustar e inovar na criatividade e proteção. Este,
próximo ao amadurecimento das graúdas frutas, resolveu instalar uma placa.
Esta, como aviso geral aos pedestres, continha/dizia: “- O local tem duas
frutas envenadas!” Os larápios, em potencial, depararam-se surpresos com o
inesperado alerta. Estes, num pré-combinado de semanas, viram-se afrontados e
desafiados nas pretenções. A dúvida crucial: Quais seriam as envenadas? A desconfiança
certamente recaia sobre as esbeltas e graúdas.
As dúvidas e opiniões,
sobre o pré-estabelecido, mantinham-se acirradas e variadas. Um participante,
numa altura, sugeriu dar a contrapartida. A turma, numa cortesia/gentileza inoportuna,
confecionaram seu aviso. Esta continha o seguinte alerta: “- Agora tem seis
envenadas!” O dono/plantador certamente assustou-se com a informação. Quais
seriam essas? Algum produto impróprio injetado no interior das frutas.
Os dois avisos, como
alerta geral, permaneceram afixadas umas boas semanas. As melancias, de dar
água na boca (no sabor dos dias quentes de verão), eram um chamarisco ao
apetite e consumo. O pessoal, de maneira geral, temeu a inconveniência. O tempo
transcorreu no cenário de boa produção. As frutas, no entanto, apodreceram literalmente
no local. Nenhum consumidor ousou arriscar a incorrer numa excepcional indisposição
(estomagal e diarreia).
O curioso, no
cruzamento posterior das informações, relacionou-se a realidade dos fatos. Os
autores descobriram que nenhuma fruta tinha sido contaminada. As partes, numa ingenuidade
mútua, ousaram pregar-se uma peça. Uma lástima, de dar dó, o desperdício daquela
majestosa dádiva agrícola.
A ganância de uns atrapalha seu próprio bem estar.
Quaisquer peças, cedo ou tarde, revertem em auto-prejuízos. As melancias, nas
colônias, deram origem a inúmeras histórias e relatos pitorescos. Os doadores,
para darem algum bem, devem fazê-lo com carinho e satisfação.
Guido Lang
“Singelas Histórias
do Cotidiano das Colônias”
Crédito da imagem: http://ahortadocouto.blogspot.com.br
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