“Não posso ser
professor se não percebo cada vez melhor que, por não poder ser neutra, minha
prática exige de mim uma definição. Uma tomada de posição. Decisão. Ruptura.
Exige de mim que escolha entre isto e aquilo.
Não posso ser
professor a favor de quem quer que seja e a favor de não importa o quê. Não
posso ser professor a favor simplesmente do homem ou da humanidade, frase de
uma vacuidade demasiado contrastante com a concretude da prática educativa.
Sou professor a favor
da decência contra o despudor, a favor da liberdade contra o autoritarismo, da
autoridade contra a licenciosidade, da democracia contra a ditadura de direita
ou de esquerda.
Sou professor a favor
da luta constante contra qualquer forma de discriminação, contra a dominação
econômica dos indivíduos ou das classes sociais.
Sou professor contra
a ordem capitalista vigente que inventou esta aberração: a miséria na fartura.
Sou professor a favor
da esperança que me anima apesar de tudo. Sou professor contra o desengano que
me consome e imobiliza.
Sou professor a favor
da boniteza de minha própria prática, boniteza que dela some se não cuido do
saber que devo ensinar, se não brigo por este saber, se não luto pelas
condições materiais necessárias sem as quais meu corpo, descuidado, corre o
risco de se amofinar e de já não ser o testemunho que deve ser de lutador
pertinaz, que cansa mas não desiste. Boniteza que se esvai de minha prática se,
cheio de mim mesmo, arrogante e desdenhoso dos alunos, não canso de me
admirar.”
(Paulo Freire em Pedagogia da Autonomia, São Paulo, Paz e
Terra, 2011)
Crédito da imagem: http://www.tribunahoje.com/noticia/42766/economia/2012/10/15/alagoas-tem-1285-professores-aposentados-pelo-inss.html
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