Rio de Janeiro, 20 de junho de 1824
Caros cunhados e irmãos e irmãs!
O céu
nos trouxe para cá sãos e salvos. Aqui, não se poderia desejar coisa melhor.
Todos nós estamos bem de saúde. De jeito algum me arrependo por ter ido embora
de Gedern e do país de vocês. E fizemos uma boa viagem marítima. No que diz
respeito à náusea, ela não traz perigo nenhum para ninguém. Tanto faz estar no
mar ou no quarto. A gente só precisa acostumar-se. Tive um companheiro de Büdingen
(situada a quase 40 km ao nordeste de Frankfurt). Ele me ajudou de todas as
maneiras possíveis. Inclusive o papel em que lhes escrevo, ele o trouxe da
Alemanha. Não aconteceu nenhum acidente.
Caros
cunhados e irmãos e irmãs, minha carta não basta e a folha de papel é pequena
demais para relatar tudo. Nós estamos no céu. Na partida de Gedern eu estava
muito preocupado. Mas Deus abençoou-me e me trouxe para cá (...) Entre vocês as pessoas aspiram por dinheiro,
mas entre nós, por uma vida longa. Quem está aqui neste céu não deseja retornar
para vocês.
Caros
cunhados e irmãos da minha família, venham para cá, para junto de mim. Não se
deixem dissuadir. (...) Caros cunhados e irmãos e irmãs (...) nós estamos no
céu. Se quiserem passar tão bem como nós, venham e juntem-se a nós. No que diz
respeito à religião, cada um pode permanecer com sua fé. Temos reformados
(calvinistas), luteranos, católicos e judeus, em suma, pessoas de todas as
religiões. Cada uma tem o seu clérigo. Recebi um lote de terra muito boa. Tenho
muitos cavalos, mulas, faisões, gansos, patos, galinhas andando livremente no
campo. Aqui consigo ganhar mais com a minha enxada do que na terra de vocês com
um arado de quatro cavalos.
Caros
cunhados e irmãos e irmãs, venham para cá, ao céu, pois vocês estão no inferno.
Quando alguém chega aqui, precisa requerer junto ao governo um passaporte.
(...) Caros cunhados e irmãos e irmãs, escrevo-lhes de longe. Não devem deixar
dissuadir-se e venham para cá, se tiverem pelo menos o dinheiro para a viagem
para (o porto de) Hamburgo (na Alemanha). Aqui vocês não precisam de dinheiro.
Estando uma vez aqui, vocês mesmos serão seu próprio valor. Aqui tem todas as
plantas, sejam elas quais forem. O que aqui estamos dando ao nosso gado é
melhor do que a comida de vocês. (...) Aqui há no depósito mais sacos cheios de
dinheiro do que batatas entre vocês. Quando me fui embora de Gedern, recebi do
judeu Wolf, um viático, inclusive quatro moedas de ouro. Esta eu as tenho ainda
hoje e ganhei outras quatro. Podem perguntar ao prefeito de Gedern se é
verdade. Há muitos cavalos, mulas, faisões, gansos, patos, galinhas. Cada um
pode possuir quantos quiser. Entre nós não há nenhuma desordem, e, sim, grande
ordem.
Cunhados
e irmãos e irmãs e todos os bons amigos, venham para cá! Não quero morrer
bem-aventurado se não for verdade o que lhes escrevo. Vendam suas casas e bens
pelo preço que conseguirem. (...) Quem exerce um ofício pode brincar com
dinheiro. Pode viajar como quiser. (...) Aqui todo mundo vive bem. Caros cunhados,
irmãos e irmãs, tragam junto o cunhado Georg Weber para que seja compensado de
vez, se tiver pelo menos dinheiro (para a viagem) para Hamburgo. Se não o
tiver, o emprestem o necessário; restitui-lo-ei. Não deixem ninguém para trás;
tragam mulher e filhos e tudo junto. Com isso encerro minha carta. Espero
revê-los em breve.
Minha
esposa e eu saudamos vocês. Transmitem saudações ao senhor prefeito, a toda a
diretoria, a todos os bons amigos da minha esposa e suas irmãs, seus irmãos e
os filhos deles, aos nossos padrinhos e nossas madrinhas e todos os demais bons
amigos.
Johannes Schmidtt De
Gedern
Fonte: Anuário Evangélico,
ano 1996, pág. 88 – 89
Crédito da imagem: http://www.familia.dienstmann.com.br/index.php?conteudo=imigracao
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