Um daqueles doutores,
autodidatas no conhecimento, achava algumas imperfeições na criação divina.
Andava muito nestas colônias e deparava-se com inúmeras situações equivocadas.
Incompreendia, a
título de exemplo, ver os mais fortes digerindo os mais fracos; fêmeas
carregarem seios/tetas por uma vida (tendo uso restrito); irmãos, por dinheiro
e fanatismo, matarem-se; adoentados, nos hospitais, deglandiando-se com o infortúnio;
bandidagem e polícia, no fogo cruzado, matarem inocentes; povos, por terras, estabelecerem
sangrentas guerras... Uma insanidade/loucura, para uma espécie dita inteligente/racional,
chamada Homo sapiens.
Sucedeu-se, num belo
dia, o camarada andar pela lavoura. Um sol quente de verão e as plantações clamando
por água! Procurou alguma sombra e viu a importância das árvores. Algumas, no ínterim
das lavouras, mantinham-se como aparentes estorvos. Apreciou sua roça de aipim.
Este, no interior da plantação e numa consorciação, reparou as volumosas melancias.
Uma dádiva para o sedento!
Degustou alguma
debaixo dum tradicional guabijú. Uma planta frondosa, abrigo/refúgio
tradicional de aves, poupada ao longo dos anos em meio à devastação humana...
Procurou, no ínterim da comilança, fazer uma comparação. Como algumas modestas
ramas, como as melancias, poderiam produzir dão saborosas e volumosas frutas? O
magnífico guabijú, imponente e majestosa, modestas frutinhas? Uma aberração/inversão
de qualidades e valores na sua ingênua compreensão. Alguma miúda/singela, nesse
intervalo, caiu-lhe sobre as costas. Refletiu sobre o fato: “- Imagina se tivesse
sido uma dessas melancias? Uns cinco a sete quilos! Que estrago!”.
O Criador, afinal, fez o mundo certo em linhas tortas. Convém
aceitá-lo como ele se apresenta. Nada de colocar defeito em tudo ou em todos.
Querer saber melhor sempre as coisas. O jeito é degustar e entender o prazer de
cada realidade. Que não podemos aprimorar/corrigir convém aceitar. O indivíduo,
desconhecendo os inúmeros ângulos das situações, tem extrema facilidade em equivocar-se.
Muitos, antes de nós, passaram por situações semelhantes e nada mostra-se muito
inovador debaixo desse velho sol.
Guido Lang
Livro “Singelas
Histórias do Cotidiano da Vida”
Crédito da imagem: http://www.carazinho.rs.gov.br/web/index.php?menu=imprensa&sub=news&id=789
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