Conta-se,
a partir da tradição oral, mais essa história (entre as muitas). Esta, a título
de curiosidade e exemplo, lança ideia sobre as dificuldades de sobrevivência
(nos primórdios da colonização). Inúmeros moradores, na atualidade, fazem
pouca ideia sobre os desafios dos tempos de outrora. Outros cidadãos “choram de
barriga cheia”. Estes vivem abonados e acomodados, porém não podem deixar de
exigir e reclamar. Algumas falas e pedidos assemelham-se a belas ofensas pela extrema
cobrança e ousadia. O luxo e o supérfluo chocam pelo descaso e desperdício dos
recursos naturais e trabalho social.
Uma
família, sem maiores recursos monetários, emigrou da Europa Central. Via poucas
chances de melhorias naquelas paragens. Ela atendeu ao chamado da propaganda da
fartura americana assim como seguiu conhecidos (imigrados) à América. Esta, num
porto (Hamburgo), ajuntou-se a outros grupos de emigrantes. Esperou umas boas
semanas até conseguir um navio (com destino ao Brasil). Passou outras tantas
(umas quatro) nas águas do Atlântico; algumas mais de quarentena no Rio de
Janeiro até chegar a Porto Alegre. Alguma espera e de lá viu-se encaminhado por
águas, através do Jacuí e Taquari, até o município de Taquari; do Taquari, com
carretas e carroças de bois, até a Colônia Teutônia (atual município de
Teutônia/RS). Achegou-se a sede de Glück-auf (significa “boa sorte” e é a atual
Canabarro/Teutônia/RS), para o interior da propriedade (lote adquirido em
prestações da Companhia Colonizadora). Transcorreram uns bons quatro bons meses
até vencer a odisseia do percurso Alemanha – Brasil.
A família, com seis membros, precisou iniciar os trabalhos no interior da
floresta. Roçar, derrubar e queimar vegetação para constituir lavouras e
colocar sementes nos solos. A fome, beirando continuamente os
estômagos, até haver alguma e maior produção (carnes, cereais, tubérculos ..).
A solução, diante da carestia, consistiu em abater fauna (silvestre) e observar
as aves. Estas, como amoras, cerejas, ingás, guabijus, guabirovas, pitangas
haviam na floresta, porém totalmente desconhecidas. A família, com razão de
inteirar-se da possibilidade do consumo humano, inspirou-se nos próprios ou
impróprios dos pássaros O bicharedo silvestre ingeria as frutas, os
humanos também poderiam consumi-las. Uma maneira de assimilar os recursos
das terras desconhecidas. Um paliativo diante da aguda carência de vitaminas
(no interior de corpos depauperados e judiados pelos maçantes trabalhos). Os
anos, através da incessante labuta, foram abençoados e mudaram o quadro adverso
de carências de toda ordem. As espécies vegetais, em função da extrema utilidade,
conheceram a preservação nas propriedades (na proporção de não serem
estorvo às culturas no interior das roças).
A dor da fome leva a improvisações
e paliativos ousados. A natureza, de alguma forma, sempre oferece, em quaisquer
espaços, recursos à vida. Precisa-se unicamente de conhecimentos e habilidades
para vislumbrá-los e explorá-los. Coloniais ostentam o espírito
preservacionista na proporção de poderem conciliar lavouras com matos
(no interior das propriedades).
Guido Lang
Livro “História das
Colônias”
(Literatura Colonial
Teuto-brasileira)
Crédito da imagem: http://blogs.d24am.com/amigosdamazonia/2010/05/27/dia-da-mata-atlantica/
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