Um certo morador,
numa altura, precisou fazer um roçado no contexto da mata virgem. Conquistar mais
alguma área arável. As necessidades familiares aumentaram. A produção oferecia
possibilidades de ganhos.
Este começou com o
roçado da mata rala, derrubada dos troncos (volumosos), secamento da vegetação
e daí a tradicional coivara/queimada. Procurou-se, de imediato, cultivar alguma
abóbora, feijão e milho (alimento básico ao trato animal). O solo/terra, com a
camada milenar do húmus, atendeu as farturas e necessidades de produção.
A surpresa ocorreu
com os tipos de inços. Adveio, a semelhança “do pêlo do cachorro”, a
conhecida/tradicional guaxuma. Centenas de milhares de mudinhas brotaram no
interior do roçado. Surgiu uma pergunta crucial: Como poderia estar inçado dessa
maneira? Sementes de guaxuma numa
floresta virgem? Algo inimaginável no ambiente agrícola! Uma planta, a capina,
difícil de combater (antes do advento dos herbicidas).
O assunto foi tema
das conversas informais na venda (armazém). Algum idoso escutou o explanado. Este,
a partir da tradição oral, soube da resposta. O seu avó havia comentado uma
história com seu pai, enquanto ele foi ouvinte. O relato fora o seguinte: um
construtor de bancos/canoas, há aproximados cem anos (por volta de 1910), amarrava
mulas no interior da mata virgem/floresta. Este construía barcaças junto aos volumosos
troncos. Eles, a base de machadadas, viam-se derrubadas e usadas como matéria
prima. Fazia-os, de preferência, junto aos troncos de timbaúva (tradicional alcunha
de “orelha de macaco”). Instalava acampamento, por dias, na proporção do avanço
dos trabalhos (de confecção dos artefatos). Poderia demorar-se semanas e, concluído
os artigos, viam-se escoados, com carroça, na direção dos cursos fluviais (daí
comercializados ou atendido algumas encomendas). Os bichos de montaria, como as
tradicionais mulas, ficaram no aguardo do construtor/dono. Estes, no ínterim,
defecavam as sementes em meios às fezes.
Estas, num estado de
dormência, preservaram-se nestas décadas. Advieram, com o desmatamento, as
condições próprias à fecundação. Ela, de imediato, tomou forma. Elas, no seu
interior, suspeitam-se ostentar uma espécie de óleo natural. Explica-se a razão
da tamanha longevidade. Um fato admirável no contexto do ciclo da vida. Esta
encontra alguma forma de precaver-se/preservar-se. A natureza encontra alguma
forma de resguardar as espécies contra um eventual extermínio. Os pacatos colonos admiraram-se do vigor
natural e instintos de autopreservação.
O indivíduo nunca pode subestimar os desígnios naturais. O
Homem, em traços gerais, pensa conhecer os segredos da natureza. Esta, a todo
instante, surpreende com indescritíveis dilemas e enigmas. A tradição oral é a
forma como pacatos colonos preservam sua história. Os registros escritos tomam
forma com os modernos meios de comunicação (Internet). Alguém, no meio
comunitário, trata de ostentar e preservar determinada informação (sobre os
muitos assuntos). “Deus escreve certo em linhas tortas”, por isso trata de
resguardar seus tesouros naturais.
Guido Lang
Livro "História das Colônias"
(Literatura Colonial Teuto-brasileira)
Crédito da imagem: https://www.fmcdireto.com.br/portal/manuais/infestantes_verao/files/assets/seo/page187.html
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