As encostas dos morros, no contexto
das chuvas frequentes e matos naturais, viam brotar a água na maior abundância.
Os olhos d’água originavam canais, valos e arroios, que na declividade abaixo,
davam vida a plantas e animais. Um barulho estrondoso, no contexto das
precipitações maiores, ouvia-se a longas distâncias, quando havia córregos
caudalosos e quedas da água improvisadas para a natureza. As chuvas de inverno
e primavera formavam um espetáculo excepcional, quando o solo via-se encharcado
com os excessos.
Colonos, até 1970, podiam tomar água
nos córregos e nascentes, quando não havia perigos das contaminações por
agrotóxicos. O cuidado mantinha-se em consumir água corrente e fresca e jamais
estagnada. Famílias tinham nascentes e poços no interior das propriedades,
quando no ínterim do trabalho nos fundos dos lotes, poderiam acorrer ao valioso
líquido no avolumar da sede. A água, nos filetes límpidos, brotava do interior
das rochas ou saibros, no que fazia a alegria de animais e homens. Umas nascentes,
pelo vigor do líquido, mantinham-se conhecidas há décadas, quando eram socorro,
no desabrochar das sedes, da vizinhança próxima. Outros foram canalizados para
abastecer criações e moradias, quando ainda edificava-se casas próximas a
fontes.
Adveio, com o aumento populacional,
a necessidade de poços artesianos, que aprofundaram-se continuamente na
proporção das necessidades de água. O lençol freático foi baixando com as
extrações massivas e as chuvas ainda, por sua vez, começaram a fraquejar.
Decorreu o consequente fraquejar das nascentes e poços, que já não tem os
vigores de outrora. Algumas precipitações maiores dão origem às outrora
nascentes, porém, em poucos dias, vem-se exauridas. A recomposição do lençol
absorve o líquido como “esponja vê sumir água derramada”. O consumo da água,
como nos tempos do passado, in natura, está em perigo em função do
“amplo empego dos venenos”.
O
Homem, com suas necessidades ilimitadas, interfere nos desígnios naturais,
quando o secamento de inúmeras nascentes integraria o rol das mudanças climáticas.
Parecia-se, nos tempos de outrora, falar em falta de água doce “alguma piada de
malucos ou de profetas tenebrosos”, e na atualidade, uma realidade cruel. A humanidade, na sua caminhada civilizatória,
resolve uns flagelos, todavia cria tantos outros, no qual inclui-se a carência
de água.
Guido Lang
Livro “Histórias das Colônias”
Crédito da imagem: http://geoparkararipe.blogspot.com.br/2008/12/parque-nacional-das-nascentes-do-rio.html
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