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segunda-feira, 8 de junho de 2020

A INTRODUÇÃO DA REDE ELÉTRICA


Guido Lang

A localidade de Boa Vista Fundos (Teutônia/RS), em 1965-1966, conheceu a introdução de uma nova rede elétrica. Os moradores sem energia e com interesse em integrar a nova linha auxiliaram na construção do melhoramento. Um mutirão, à base do trato verbal e serviço prestado por dias trabalhados, tomou possível o barateamento da rede comunitária, que veio revolucionar a vivência comunitária. Os colonos associados, mesmo assim, necessitaram desembolsar uma boa soma monetária, que possibilitou custear a melhoria. A instalação da luz elétrica, em diversas residências, veio a sepultar progressivamente velhos hábitos, além disso os moradores passaram a ter uma vida noturna mais intensa. A revolução, de imediato, veio abolir as tradicionais lamparinas de querosene que, há décadas, iluminavam as moradias. A fuligem, em decorrência dessa iluminação, era uma marca comum nas paredes das residências, reforçada a ação do fogão a lenha. Eventuais incêndios, em função de acidentes com os artefatos, acabaram diminuídos no meio rural, pois a iluminação elétrica diminuía estes riscos.
Os moradores das colônias, antes do advento da luz elétrica, tinham poucos hábitos noturnos. O lema era de aproveitar ao máximo as horas ensolaradas. O ciclo da vida parecia caminhar paralelo à sucessão dos dias e das noites, sendo que os espaços diurnos eram destinados à labuta e os noturnos, ao repouso. As famílias, de maneira geral, iam “dormir com as galinhas”, pois não se tinham pretensões de labutar à noite. Os horários, como 20 a 22 horas, eram os momentos de recolhimento, porque um bom e tranquilo sono era compreendido como altamente saudável. A labuta, com os primeiros raios solares, era retomada. Havia o lema de “quem cedo madruga, Deus ajuda”.
As pessoas, sobretudo os casais, aproveitavam o alvorecer e o cair do dia para os diálogos, que tratavam dos acontecimentos comunitários e do planejamento rural. Os filhos, a partir da cama, podiam inteirar-se das conversas que se sucediam ao redor da rodada matinal do chimarrão. Somente os rebentos maiores entravam na roda das conversas e do chimarrão, enquanto os menores, no caso de madrugar, recebiam um colo e podiam servir-se posteriormente. As famílias, dessa forma, encontravam um maior horário de diálogo, que era sublime para a boa convivência familiar. Os divórcios e separações no meio rural eram casos raríssimos que, na eventualidade, originavam um “estrondo comunitário”. Os casais, neste modelo de vida, detinham maior espaço de convivência e curtição, e parecia haver uma maior integração afetiva. O contato com a natureza e a vida livre parecia acirrar os desejos dos instintos, o que podia resultar numa profícua prole.
As dificuldades maiores decorriam unicamente do inverno, quando as noites eram excessivamente longas. Diversas pessoas “cansavam da cama”, quando a escuridão prolongava o repouso. O ambiente escuro e frio inibia o madrugar, por isso a solução era ter paciência com a situação. Os dias chuvosos eram também uma problemática, pois a criançada ousava correr na umidade. As mães, às vezes, ficavam atordoadas com as bagunças, quando agitavam-se tremendamente as moradias. A alternativa consistia em levar a filharada até os galpões, onde podiam brincar no espaço das ferramentas, no estábulo, no paiol... Os pais cuidavam dos reparos, que se relacionavam a ferramentas, instalação, roupas, assim como construção de caixa de abelhas, confecção de cabos e vassouras, cuidados com animais...
A introdução da luz elétrica trouxe progressivas mudanças de hábitos e valores de vida, quando a convivência familiar passou a estender-se noite a dentro. Os princípios do consumismo e do materialismo passaram a concentrar as atenções e, lentamente, diversos aparelhos elétricos acabaram sendo adquiridos. Uma vontade acirrada de comprar aparelhagem tecnológica tomou corpo, portanto passou-se também a ter dificuldades de caixa. Os dividendos gerados eram canalizados para o custeio mensal da taxa de iluminação, o que gerou uma dependência financeira. Os excedentes monetários, progressivamente, foram canalizados ao consumo familiar, deixando-se de empregar no sistema de melhoramentos da produção agrícola. Os moradores passaram a absorver princípios consumistas, e a “filosofia de pão-duro” passou a perder expressão. A agitação, a correria e o tempo ganharam importância, quando, nas novas gerações, assimilaram inúmeros modelos e valores citadinos. A energia possibilitou o acesso ao mundo e com ela suplantou-se parte da pacata vida rural.

* Fonte: Disponível no livro "OS COLONIZADORES DA COLÔNIA TEUTÔNIA: COLETÂNEA DE TEXTOS", de Guido Lang.

* Crédito da imagem: Conceicao Aparecida Trentin (https://br.pinterest.com/pin/352828952034898853/)

* Postagem: Júlio César Lang.

* PROIBIDA A REPRODUÇÃO INTEGRAL OU PARCIAL DO TEXTO SEM A MENÇÃO DA REFERIDA FONTE (LEI Nº 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998).

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quarta-feira, 3 de junho de 2020

OS DIRETORES DA COLÔNIA TEUTÔNIA

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas, multidão e atividades ao ar livre

Guido Lang

A sede da Companhia Colonizadora Carlos Schilling e Cia esteve localizada em Porto Alegre/RS. Ela, em decorrência, precisou nomear pessoas responsáveis, que pudessem representar seus interesses na colônia. Os colonos afluíam das velhas colônias (de São Leopoldo), ou de Rio Grande à Taquara, quando encaminharam-se à Teutônia para adquirir os tão almejados lotes de terras. Eram dirigidos, sobretudo, pela Transportadora de Karl Arnt, diretamente à casa do diretor ou procurador da Colônia Teutônia.
Teutônia teve um total de seis diretores. O primeiro foi Lothar de la Rue, que administrou-a de 1862 a 1868; destacou-se, na sua gestão, a medição das terras e sua delimitação em picadas. Administrou a nascente colônia a partir de Canta Galo (localizada ao sul de Posses — município de Taquari). Este também comercializou os primeiros prazos a Christiano e Conrado Schwingel, Almândio Dickel e Francisco Antônio Machado, assim como, auxiliou na instalação de outras famílias de pioneiros que, posteriormente, tiveram recursos para comprar as terras.
Karl Arnt, segundo diretor, assumiu no período compreendido de 1868 a 1872. Seu desempenho como administrador foi tamanho que algumas bibliografias e a tradição oral lhe conferem a própria fundação de Teutônia. Ele, além de diretor, constituiu-se no primeiro comerciante em Teutônia, quando instalou-se na Picada Glück-auf (atual Bairro Canabarro/Teutônia/RS). Foi o responsável pela instalação da empresa transportadora, matadouro, serraria, moinho e fábrica de bebidas. Empenhou-se, como cristão, na constituição da primeira comunidade evangélica e escola comunitária. Arnt também tornou-se sócio da empresa colonizadora Carlos Schilling; regimentou inúmeros prazos coloniais (espalhados nas diversas picadas, os quais posteriormente comercializou ou deixou como herança aos filhos); sedimentou a colonização, quando uma enorme quantidade de lotes foram comercializados; vendeu terras aos colonos: Nicolaus Streher, Ernst Güntzel, Bernard Robert Greuner, Albert Schüler, Nicolau Röhrig, Jacob e Daniel Franck, Wilhelm Brust, Abraão Heinrich, Friedrich Genehr, Ernst Hachmann, Heinrich Jung, Wilhelm Greve, Friedrich Schneider, Adão Zimmermann, Christian Zimmermann, Ernst Hunsche, Wilhelm Schonhorst, Friedrich Etgeton, Friedrich Markus, Julius Baumgarten, Jacob Scheiermann, Wilhelm Hachmann, Caroline Hauenstein, Gottlieb Borgelt, Heinrich e Wilhelm Lautert, Conrad Flech, Jacob Lang, Karl Fries, Jacob Dockhorn, Friedrich Kussler...
Oscar von Boronski, terceiro diretor, ficou à frente da administração de 1872 a 1876. Prosseguiu a intensa comercialização de terras e o sucesso do empreendimento foi assegurado; comercializou terras a Karl Arnt, Friedrich Voges, Manoel Lautert, Friedrich Lautert, Johann Heinrich Böhm, Friedrich Landmeier, Adão Fensterseifer, Heirich Gödtel, Christian Schmitt, Friedrich Becker, Friedrich Kich, Wilhelm Prass, Karl Surkamp, Wilhelm Zimmermann, Wilhelm Dickel, Peter Schneider, Luiz Diderich, Abraão Bohneberger, Wilhelm Wiebusch, Wilhelm Kilpp, Wilhelm Brune...
Jacob Kilpp, quarto procurador, assumiu a administração de forma interina no período de 1876 a 1878, quando vendeu lotes a Jacob Born, Johann Schröer, Karl Arnt, Jacob Röhrig, Henrich Ritter e Jacob Feldens.
Roberto João Júlio Paulsen administrou-a no período de 1878 a 1889, quando continuou a comercialização das terras e vendeu lotes aos colonos: Jacob Elicker, Pedro Michel, Hermann Cord, Wilhelm Ahlert, Hermann Bunnecker, Rudolph Ahlert, Wilhelm Schumann, Heinrich Hoge, Friedrich Brönstrup, Wilhelm Wilsmann, August Wessel, Wilhelm Brönstrup, Karl Arnt, Jacob Hengen, Heinrich Eggers (natural de São Leopoldo), Wilhelm Heemann, Heinrich Fangmeier, Jacob Feldens Filho, Philipp Stahlhöfer, Jacob Lang, Jacob Renner, Adolf Eggers, Jorge Saueressig, Wilhelm Krützmann, Ernst Borgelt, Adão Knebel, Wilhelm Hachmann, Adolf Lautert, Adolf Goldmeier, Adolf Etgeton...
Walter Wienandts, diretor de 1889 a aproximadamente 1902, foi o último diretor, quando concluiu a comercialização das terras e efetuou a colonização da área norte da colônia; vendeu terras a: Friedrich Konermann, Friedrich Heinrich Bergjohann, Heinrich Gausmann, Gaspar Heinrich Markus, Friedrich Lutterbeck, Geraldo Spellmeyer, Bernard Wilhelm Schröer, Johann Friedrich Gaspar Lagemann, Ernst Heinrich Lagemann, Heinrich Wilhelm Inhoff, Friedrich Wilhelm Teckmeier, Friedrich Lindemann, Nicolau Nilsson, Friedrich Heinrich Inhoff, Heinrich Nietiedt, Friedrich Wilhelm Rahmeier, Rudolf Brune, Heinrich Altevogt, Heinrich Spellmeir, Friedrich Richter, Heinrich Paasche, Heinrich Damann.
Vários destes pioneiros são da primeira geração de teuto-brasileiros e filhos dos patriarcas.

* Fonte: Extraído do livro "OS COLONIZADORES DA COLÔNIA TEUTÔNIA: COLETÂNEA DE TEXTOS", de Guido Lang.

* Crédito da imagem: Clube de Tiro ao Alvo (Schutzenverein em Teutônia/RS). Ano de 1900. Comandante da banda Fritz Borchmann. Na 1ª fila, a banda musical dos irmãos Dick (Gentileza - Guido Lang).

* Postagem: Júlio César Lang.

* PROIBIDA A REPRODUÇÃO INTEGRAL OU PARCIAL DO TEXTO SEM A MENÇÃO DA REFERIDA FONTE (LEI Nº 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998).

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terça-feira, 2 de junho de 2020

TRANSPORTE À ESTRELA/RS


Guido Lang

Jacob Veeck com seu “caminhão ônibus”. Fazia linha uma vez por semana (quintas-feiras) à Estrela. O trajeto era Languiru, Canabarro, Posses, São Jacó, Estrela/RS. Não havia rodoviária e a parada era no Hotel Sipmann em Estrela/RS. O veículo tinha 21 cavalos de força e um eixo de força com 10 cavalos, carregava 13 passageiros e levava 4 dias para chegar a Panambi/RS. As estradas eram precárias; viajava muito pelos campos com diversos atoleiros. O pessoal é Willibaldo Veeck (guri), Jacó Veeck (motorista), Paulina Veeck, Alma Veeck e Otto Dickel. Sem informações quanto ao ano em que a foto foi tirada.

*Texto extraído dos livros “COLÔNIA TEUTÔNIA: HISTÓRIA E CRÔNICA (1858-1908)" e "OS COLONIZADORES DA COLÔNIA TEUTÔNIA", de GUIDO LANG.

* PROIBIDA A REPRODUÇÃO INTEGRAL OU PARCIAL DO TEXTO SEM A MENÇÃO DA REFERIDA FONTE (LEI Nº 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998).

* Postagem: Júlio César Lang.

* Crédito da imagem: Gentileza - Raimundo Bayer da Boa Vista Fundos/Teutônia/RS.

segunda-feira, 1 de junho de 2020

AS FASES DA COLONIZAÇÃO DE TEUTÔNIA/RS



Guido Lang

O processo de ocupação ocorreu em três etapas: o primeiro período ocorreu entre os anos de 1862 a 1868, quando foram colonizadas as picadas situadas ao sul da Colônia Teutônia, isto é, as terras situadas à margem esquerda do Arroio Boa Vista. Constituía-se na área mais plana, formada pelas picadas Hermann, Glück-auf, Nove Colônias, Posses, Catarina e Boa Vista. Colonizou-se, neste período, somente as picadas de Hermann, Glück-auf e Boa Vista. Destacaram-se neste empreendimento de colonização os colonos teuto-brasileiros ou imigrantes alemães que, inicialmente, tentaram estabelecer-se na área da antiga Colônia Alemã de São Leopoldo. Estes foram atraídos pela propaganda da fertilidade das terras (solo massapê — muito valorizado antes do advento dos adubos químicos), assim como pela informação da boa administração da colônia e na tentativa de fazer uma colonização, principalmente, com evangélicos luteranos (que sentiam-se perseguidos com os acontecimentos dos Mucker e o espírito da Contra-Reforma com a chegada dos jesuítas). Estes colonos iniciaram propriamente a colonização, ao contrário do que querem fazer algumas bibliografias tradicionais. Verificou-se nesta ocupação, uma colonização mista, pois afluíram teuto-brasileiros e imigrantes das mais variadas procedências. Instalaram-se nos lotes, que tiveram uma extensão de uma a duas colônias (100.000 a 200.000 b2).
A segunda fase ultrapassou o Arroio Boa Vista, isto é, abrangeu as terras situadas a sua margem direita. Foram ocupadas as picadas Frank, Welp, Clara, Schmidt e Neuhaus (atual Teutônia Várzea) assim como Posses, Nove Colônias e parte da Catarina (lotes nº 1 a 10) da margem esquerda. A ocupação ocorreu a partir de 1868 a 1875, quando a influência dos colonos teuto-brasileiros das velhas colônias foi menor. Predominaram os colonos westfalianos, que tinham imigrado a partir de 1868. Posses foi uma exceção, pois foi forte a influência luso-brasileira e africana (tinha existido, provavelmente, um quilombo próximo à área, por isso a presença acentuada). A comercialização e ocupação destes lotes foi rápida, isto é, em menos de uma década vendeu-se toda a área. A característica dos prazos é que ficaram menores (média de 100.000 b2) e as terras começaram a ficar acidentadas (devido à presença de morros testemunhos em Clara, Schmidt, Harmonia, Teutônia e as encostas ou cuestas do Planalto Meridional). A extensão das picadas (linhas) igualmente reduziu-se e estas localizavam-se no centro da Colônia Teutônia. 
A última etapa ocorreu no espaço compreendido de 1876 a 1885, quando foram desbravadas as picadas do norte da colônia. A área engloba os terrenos acidentados das encostas do planalto, que dificultaram a agricultura (favorecem na atualidade a instalação de aviários, devido ao clima ameno). Foram colonizadas as picadas: Moltke, Köln, Berlim, Huch ou Krupp, Bismarck, Arroio Secco, Frederico Guilherme, Horst e Silveira Martins. Predominou uma colonização homogênea de colonos westfalianos, que tiveram inicialmente, sérios obstáculos em meio aos morros, para alcançar a prosperidade. O tamanho dos prazos reduziu-se ainda mais (média de 40 a 60.000 b2), assim como das picadas (de 10 a 20 lotes de terras). A área abrange atualmente, a parte norte do município de Teutônia/RS e sul de Imigrante/RS. 
Teutônia foi colonizada, portanto, num espaço de três décadas, nas quais predominaram os colonos provenientes da Westfália, seguidos dos pioneiros das velhas colônias. 

*Texto extraído do livro “COLÔNIA TEUTÔNIA (1858-1908)", de GUIDO LANG

* É PROIBIDA A REPRODUÇÃO INTEGRAL OU PARCIAL DO TEXTO SEM A MENÇÃO DA REFERIDA FONTE (LEI Nº 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998). 

* Postagem: Júlio César Lang

* Crédito da imagem: Moradores da Picada Schmidt/Westfália/RS jogando baralho. Aparece, terceiro jogador da direita para esquerda; Karl Heinrich Strate - Ano 1890 (Foto: Gentileza - Guido Lang). 

sexta-feira, 29 de maio de 2020

COLONIZAÇÃO DE TEUTÔNIA/RS


Guido Lang

A ocupação enquadrara-se dentro da política nacional de imigração e colonização, dirigida a imigrantes europeus (preferencialmente alemães e italianos). Estes tiveram de povoar zonas distantes e desabitadas, ocupá-las de forma definitiva, desenvolver a atividade agrícola com produtos suplementares às grandes culturas (produtos destinados ao mercado interno), reforçar o sistema do trabalho livre (em substituição ao trabalho escravo, desinteressante ao capitalismo em expansão e aos interesses comerciais ingleses), ajudar a trazer a nova mentalidade do trabalho da terra, contribuir na expansão do mercado interno e na formação de um mercado consumidor, reforçar as fronteiras com uma ocupação permanente e criar uma economia complementar ao setor exportador.
O êxito da colonização, na Colônia Teutônia, enquadra-se neste processo. Teutônia acabou ocupada de uma forma permanente e, consequentemente, auxiliou na fabricação de produtos destinados ao mercado interno (cereais, banha, fumo, nata, carne...), desenvolveu a atividade agrícola através da mão-de-obra familiar e reforçou a ideia do trabalho livre (embora tenha-se encontrado casos esporádicos de escravidão negra entre alguns colonos) numa área de largo emprego do trabalho servil (como Taquari/RS). Ela também contribuiu à formação de uma nova mentalidade econômica, à constituição de uma classe média e de um mercado interno.
A Província, afinada com os interesses do Estado nacional brasileiro, viu concretizados seus interesses através do aumento da produção de mercadorias suplementares à economia nacional, integração da área de terras devolutas ao sistema produtivo e diminuição do custo do processo de colonização (devido ao povoamento efetuado por particulares). A Companhia assistiu ao retorno, com lucro, do capital empregado com a venda dos lotes coloniais aos colonos. Os pioneiros viram suas aspirações e sonhos concretizados porque encontraram perspectiva de vida nesta área; inúmeros imigrantes e migrantes (da Colônia Alemã de São Leopoldo) saíram numa situação de miséria da Europa e não tiveram grandes oportunidades de adquirir lotes em São Leopoldo, mas alcançaram a vida digna em terras teutonienses.
O primeiro lote foi comercializado a Christiano Schwingel que, em 5 de janeiro de 1863, adquiriu a colônia número dois da Picada Hermann (atual Linha Germana); esta área possuía mil braças quadradas ao lado esquerdo da dita localidade. O segundo quinhão foi vendido em 23 de novembro de 1863 a Conrado Schwingel, os quais provavelmente, eram irmãos. Este comprou a colônia número um da Picada Hermann com área estimada em cento e oitenta e sete braças quadradas. Os lotes subsequentes foram vendidos a: Armândio Dickel (nº 12 da Picada Glück-auf, atual Canabarro, área de cem mil braças quadradas, em 22 de novembro de 1866), Francisco Antônio Machado (nº 9 da Picada Nove Colônias, atual Linha Travessão, localizada entre Germana, Canabarro e Paverama, área de cem mil braças quadradas, em 7 de fevereiro de 1868), Pedro Michel (nº 1 da Picada Glück-auf, área de cem mil braças quadradas em 16 de junho de 1869).
Outros pioneiros foram compradores de prazos coloniais: viúva Carolina Hauenstein, Jacó Feldens, Adam Lambert, Joseph Hagemann, Johannes Lambert, August Flesch, Carl Dietze, Friedrich Dickel, Johannes Dreyer, Heinrich Henchen, Heinrich Dickel, August Böhm, José Anisette, Friedrich Brandt, Jacob Weber, Carl Schneider, Heinrich Müller, Ernst Guntzel, Heinrich Höfler, Wilhelm Landmaier, Friedrich Sommer, Wilhelm Hasenkamp, Friedrich Neuhaus, Willhem Decker, Friedrich Knebelkamp, Hermann Pohmann, Heinrich Eggers (da Westfália), Friedrich Roloff, Johann Kruger, Carl Sippel, Hermann Heinemann, Daniel Gref, Franz Götz, Jacob Elicker, Friedrich Feldmann, Abraham Heinrich, Friedrich Blömker, Heinrich Welp, Ernst Borgelt, Hermann Schlieck, Carl Lagemann, Carl Schäeffer, Willhelm Hunemann, Friedrich e Heinrich Etgeton, Ernst Osterkamp, Friedrich Trennepohl, Hermann Binnecker, Wilhelm Kreimeier, Christ Appel, Rudolph Ehrenbring, Wilhelm Fangmeier, Johann Schröer, Wilhelm Hollmann, Heinrich Frangmeier, Gerhardt Wahlbring, Friedrich Peter, Wilher Schumann, Bertram Driemeier, Heinrich Graf, Hermann Wiedheuper, Heinrich Schröer, Wilhelm Kniebe, Wilhelm Heemann, Ernst Fiegenbaum, Gustav Britzki, August Wessel, Wilhelm Brönstrupp Senior, Ernst Hachmann, Johann Heinrich Behne, Hermann Heinrich Rahmeier, Wilhelm Vocke, Theodor Hauenstein, Heinrich Kerger, Christ Schneider, Carl Fries, Wilhelm Ahlert, Philipp Faller, Georg Schmidt, Wilhelm Schonhorst, Heinrich Messer, Adam Zimmermann, Cidônia Carra, Hermann Hunemeier, Heinrich Hagemann, Friedrich Elicker, Ernst Windmöller, Georg Wallauer, Julius Bauemgarten, Jacob Brust, Ernst Hachmann II, Heinrich Decker, Wilhelm Krutzmann, Wilhelm Schlieck, Gustav Weier, Heinrich Sommer, Heinrich Brönstrupp, Friedrich Jasper, Heinrich Osterkamp, Friedrich Osterkamp, Wilhelm Driemeier, Heinrich Lagemann, Hermann Cort, Wilhelm Altmann, Heinrich Thepe, Heinrich Haslage, Franz Staggemeier, Wilhelm Brackmann, Georg Carl Dreher, Heinrich Lautert, Heinrich Lammes, Friedrich Lautert, Carl Etzberger, Conrad Fleck, Wilhelm Rahmeier...que adquiriram terras até o ano de 1870.
A companhia continuou comercializando terras até o ano de 1886, quando então esgotaram-se os lotes. A relação comprova-nos a rápida evolução da colônia que, em 1864, já possuía 16 casas, 70 habitantes, 31 prazos coloniais comercializados e uma área cultivada de aproximadamente 220 braças quadradas.
Teutônia continuou progredindo, atingindo em 1869 aproximadamente 800 moradores. Estes residiam num raio de duas horas à cavalo. Em 1870 chegaram ao número de 1000 habitantes, graças a vinda dos migrantes westfalianos, que vieram sobretudo do círculo de Osnabrück.

*Texto extraído do livro “COLÔNIA TEUTÔNIA (1858-1908)", de GUIDO LANG.

* É PROIBIDA A REPRODUÇÃO INTEGRAL OU PARCIAL DO TEXTO SEM A MENÇÃO DA REFERIDA FONTE (LEI Nº 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998).

* Postagem: Júlio César Lang.

* Crédito da imagem: Turma de animação de Ano Novo na Boa Vista (Gentileza de Alcido Schneider).

quinta-feira, 28 de maio de 2020

DENOMINAÇÃO DAS PICADAS DE TEUTÔNIA/RS


Guido Lang

Teutônia foi dividida em picadas (linhas ou localidades), que receberam denominações de acordo com os primeiros pioneiros, paisagens geográficas ou nomes ligados a unificação alemã. Estas picadas foram: a) Posses: uma referência ao Arroio Posses, que banha a área; b) Glück-auf: significa, em alemão, “boa sorte, prado da felicidade ou alto de felicidade” e retratara a esperança dos colonos em dias de prosperidade; c) Nove Colônias: a picada possuía um total de nove lotes coloniais entre Hermann e Glück-auf, resultando daí a denominação de Nove Colônias; d) Brust ou Hermann: a denominação original era Picada Brust, que era uma referência ao pioneiro Jacob Brust — passando posteriormente a Hermann, numa homenagem ao morador Hermann Gewehr; e) Boa vista: provém do Arroio Boa Vista, que teria sido uma atribuição do agrimensor Lothar de la Rue ou Boa Vista (numa referência à exuberante vegetação da Mata Pluvial Subtropical); f) Catarina ou Catharina: uma menção à primeira moradora Catharina Dockhorn (esposa de Jacob Lang); g) Picada Frank: uma homenagem aos pioneiros Daniel e Jacob Franck, a grafia original deveria ser Picada Franck; h) Picada Neuhaus: referência ao pioneiro Friedrich Neuhaus, que instalou-se na Teutônia Várzea — denominação posteriormente ignorada pelos moradores teutonienses; i) Picada Welp: homenagem a Friedrich Welp; j) Picada Schmidt: referência aos pioneiros Christian e Peter Schmitt — a grafia original seria Picada Schmitt e não Schmidt; 1) Clara: constituiu-se na primeira picada colonizada pelos colonos westfalianos — representava a claridade na Mata Pluvial, a claridade do céu e a magnífica visão do lugar, em direção ao vale do arroio Boa Vista; m) Berlim e Nova Berlim: homenagem à capital do Estado da Prússia e da Alemanha (após a unificação em 1870), que constituiu-se no centro político da Alemanha Unida sob Bismarck (atual Almirante Barroso ou Berlim — Município de Imigrante/RS); n) Picada Moltke: referência ao general e chefe do Estado Maior do exército prussiano Helmuth Karl Ernhard Moltke (1800-91), que dedicou-se a aperfeiçoar a eficiência do exército prussiano e teve decisiva participação na unificação; o) Huch ou Krupp: Huch numa referência ao dono da “Sociedade Huch & Companhia” ou Krupp numa homenagem à família de fabricantes de aço, armamentos e máquinas, que foram indispensáveis à unificação alemã; p) Picada Bismarck: homenagem ao estadista Ottto Eduard Leopold Bismarck (1815-95), Chanceler de Ferro e realizador da unidade alemã; q) Picada Frederico Guilherme: homenagem ao rei Frederico Guilherme IV (1795-1861), que tentou organizar, sem êxito, uma pequena Alemanha Unificada diante da Áustria; r) Picada Köln: referência à famosa e importante cidade, próxima à região do Ruhr, de Köln (Colônia); s) Picada Horst: atribuída ao primeiro morador Guilherme (Wilhelm) Horst, por isso ficou conhecida como lugar do morador Horst; t) Picada Arroio Secco ou Arroio da Seca: referência a um riacho seco durante o período da grande estiagem de 1873, que serviu como divisor dos lotes coloniais entre alguns prazos coloniais (atual Arroio da Seca — Imigrante/RS).

*Texto extraído do livro “COLÔNIA TEUTÔNIA (1858-1908)", de GUIDO LANG.

* É PROIBIDA A REPRODUÇÃO INTEGRAL OU PARCIAL DO TEXTO SEM A MENÇÃO DA REFERIDA FONTE (LEI Nº 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998).

* Postagem: Júlio César Lang.

* Crédito da imagem: Inauguração da Estrada Nova Capivara — Pontes Filho (Foto: Gentileza - Celma Schneider).

quinta-feira, 7 de maio de 2020

A BARRIGA CHEIA


Guido Lang

O ancião, “em perdido na linha” (numa sensata localidade dominada pela silvicultura), ostenta-se um modesto lenhador. A madeira, em acácia e eucalipto, verifica-se vendida (no complemento de renda do benefício social). Este, em décadas, labutou como guarda noturno numa afamada empresa. O convívio, em melindrosa vila, externou facetas da criminalidade e transgressão. A vida, no contexto urbano, tratava-se de “um salve-se quem puder para não passar fome”. A maneira, na terceira idade, foi refugiar-se na liberdade e tranquilidade do interior. A subsistência, numa essência de peleia, ensinou uma realidade social. Ela, na tradição oral, acorre externada a descendência. A lição reza: “melhor pobre de barriga cheia no interior do que diplomado/estudado de estômago vazio no contexto urbano”. O indivíduo, na exclusiva existência, convém prezar pela alegria e realização do que batalhar pela fama e riqueza. As sensatas ciências assimilam-se no exclusivo do desenrolar das vivências.

* Livro: Ciência dos Antigos

* Postagem: Júlio César Lang

* Crédito da imagem: http://www.osmais.com/index.php?ver=MTMzODA=