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domingo, 19 de maio de 2019

O chamado do velho índio

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Guido Lang

      O povo brasileiro tem muitas crendices e superstições, que refletem o quadro da miscelânea cultural. Inúmeras histórias são narradas de boca em boca, mas dificilmente ganham uma redação. O povo humilde dificilmente se dá o tempo e o trabalho de elaborar escritos, que descrevem a sua rica vivência.
          Uma modesta família colonial tinha um pedacinho de terra próxima a um riacho, onde havia uma árvore centenária. A mulher, com frequência, ia ao córrego com o objetivo de lavar roupas, porque não existia encanamento de água na residência. Inúmeras idas e vindas faziam-se ao longo dum ano de penosa labuta.
            A mulher, numa tarde, ouviu uma voz, que saía do fundo daquela terra, próxima do centenário vegetal. Esta, num primeiro instante, pensou tratar-se de alguém conhecido, mas olhou pelas redondezas e nada viu. Procurou prestar mais atenção em relação à procedência daquele chamado, que, vindo do solo, assustou-a tremendamente.
         Esta, em meio aos temores, atendeu ao chamado, que dizia tratar-se de um indígena.
            Um velho pajé, com a função de feiticeiro, profeta e sacerdote, tinha sido enterrado há décadas naquele espaço, mas sua alma ainda perambulava pelas redondezas daquele cemitério nativo.
           A mulher achou tratar-se de um comunicado sobre a existência de tesouros.
            As escavações, em poucos dias, iniciaram, mas não encontraram nada de valioso.
          A família, por causa do trabalho, mudou-se para a cidade e os moradores do local acharam que esta tinha encontrado a ambicionada fortuna.
           A coincidência de mudança tinha criado mais um conto colonial, no qual mesclam-se fatos concretos e imaginários.
         Os seres humanos possuem mente fértil quando se trata de riquezas, pois histórias não faltam nas conversas informais sobre enriquecimentos.
          Os próximos parecem ganhar sempre mais fácil o dinheiro do que a gente.

(Texto extraído de “Contos do Cotidiano Colonial”, página 19, de Guido Lang).


Crédito da imagem: http://caminhos-labirintos.blogspot.com

domingo, 12 de maio de 2019

O baú de moedas

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Guido Lang

   Wilhelm, como a maioria dos colonos, era um pacato cidadão, que dedicou a vida à família e à atividade rural. Ele, como quase todos os filhos de imigrantes alemães, não teve maiores chances de escolher uma profissão liberal e de serviços, pois careceu de maiores oportunidades para prosseguir nos estudos.
    As dificuldades monetárias mostravam-se constantes na infância: os pais ostentavam posses, mas careciam de divisas financeiras. Os genitores vieram à América com uma “mão na frente e outra atrás”, praticamente não trouxeram bens. O clima, o solo e o sistema de culturas necessitavam ser assimilados e o trabalho estendia-se de segundas a sábados. As folgas, no máximo, ocorriam aos domingos e feriados excepcionais. O cidadão, naquele mundo, assimilava, desde tenra idade, a filosofia de poupador e trabalhador, pois a prosperidade e o sucesso econômico poderiam decorrer unicamente do suor da labuta e de muita economia.
     O colono, na vida adulta, veio a constituir família e continuou as atividades assimiladas dos ancestrais. A prosperidade herdada dos pais e uma bela moradia foi edificada com os dividendos auferidos das criações e plantações. Os filhos cedo vieram e reforçaram, na medida do crescimento, a força braçal familiar. Estes, num primeiro momento, pareciam refazer a trajetória paterna que era de nascer, crescer, casar, multiplicar-se e morrer, naquela realidade existencial.
     Wilhelm, com a passagem dos anos, procurou fazer uma economia particular, com vistas a proteger-se dos infortúnios da velhice. Ele, conhecendo o lastro ouro e prata da moeda nacional (no período monárquico e primórdios da República), procurou avolumar um punhado destes metais. As divisas metálicas, durante algumas décadas, foram cuidadosamente juntadas e guardadas no baú familiar. O numerário veio a somar diversos quilos, que seriam a garantia diante dos azares da existência.
    O morador, num dia destes, veio a falecer repentinamente. Os herdeiros vieram conhecer seu espólio e depararam-se com suas economias. Uma filha e genro, logo se adonaram das reservas, quando iniciaram brigas, falatórios e intrigas, em função do patrimônio.
     O cidadão, geralmente, não precisa daquilo que amontoa e guarda com tanto zelo durante anos.

(Texto extraído de “Contos do Cotidiano Colonial”, página 19, de Guido Lang).

Crédito da imagem: https://produto.mercadolivre.com.br/MLB-1083916831-400-moedas-ouro-tesouro-pirata-festa-decoraco-bau-navio-_JM?quantity=1

domingo, 5 de maio de 2019

A serena passagem para o Além

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Guido Lang

A doença e morte são um flagelo da humanidade que, em quaisquer sociedades, reúnem entes queridos ao redor dos enfermos. O meio colonial não fugiu à regra, pois quaisquer enfermidades mais graves eram causa de comentários e preocupações generalizadas.
A notícia da doença cedo difundiu-se entre os moradores. Amigos e vizinhos auxiliavam a família nas dificuldades e promoviam visitas. Um moribundo reunia familiares e religiosos, ocasião em que se ministrava a Santa Ceia nos “momentos últimos” daquela existência.
A família, como pais e rebentos, promovia uma reunião final, na qual procurava-se conviver os instantes finais com aquele agonizante.
Sucedeu-se, numa oportunidade, o encontro final dum clã rural, quando o patriarca encontrava-se no leito de morte. O cidadão estava passando da dimensão terrena para a eterna, pois o bom cristão acredita piamente na ressurreição. Uma filha, moradora a quilômetros de distância do solar familiar, atrasou-se para o encontro da Ceia e chegou chamando pelo moribundo.
Esta, em meio ao desespero da situação, gritou pelo nome do “quase finado”, com o que interrompeu e atrapalhou a “serena viagem para o Além”.
O moribundo, conforme o relato deste aos familiares, narrou sua experiência de viagem ao outro mundo, quando viu-se interrompido da jornada. Ele, depois de mais dois dias de vida, reclamou do procedimento, porque atrapalhou tremendamente a sua sossegada morte.
O ancião narrou sua odisseia: tinha sido buscado por anjos. Estes teriam-no conduzido, numa tranquila viagem, em direção a um lugar extremamente belo, luminoso e quieto, que trouxe a vontade de permanecer e curtir.
As pessoas, com ensinamento e sabedoria, não devem chamar pelo nome dos moribundos quando estes tomam a direção da vida eterna. Estes precisam ser deixados em paz com o objetivo de alcançarem um sereno perecimento. A vida eterna parece ser uma passagem para uma existência mais fecunda.

(Texto extraído de “Contos do Cotidiano Colonial”, página 56, de Guido Lang).


Crédito da imagem: https://www.iquilibrio.com

quarta-feira, 24 de abril de 2019

A história do lobisomem

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Guido Lang

Histórias de fantasmas e lobisomens costumam povoar a imaginação popular. As crendices, sobre o ser que é meio homem e parte lobo, mantêm-se presente nos relatos das comunidades germânicas.
Este ser, conforme descrições populares, habitava refúgios mais discretos das florestas, porque ele não teria espaço no contexto da sociedade dos racionais. A condição de corpo humano e cabeça de lobo teria levado a sua rejeição na convivência social, pois manteria muito acentuados os instintos animalescos. Alguns coloniais, numa estranha mistura genética, falam num cruzamento da espécie “homo sapiens” com o animal carnívoro selvagem do gênero canino.
A esquisita figura peluda se constituía no terror das mulheres, pois, motivado por desejos sexuais insaciáveis, poderia avançar sobre elas. O fato explica os maciços cuidados com as meninas moças que, ao cair da noite, não deviam tomar caminhos da roça e estradas gerais. Os ataques poderiam ser realidades corriqueiras e resultariam em abusos sexuais e estupros. Alguma companhia familiar, em função deste temor, necessitaria fazer-se presente nestas saídas, para que o pior pudesse ser evitado.
Os cuidados maiores sucediam-se nas noites enluaradas, pois eram propícias para o despertar dos instintos animalescos. A lua cheia, com sua magnifica claridade, convidava aos passeios noturnos, ocasião em que os moradores das colônias mantinham o hábito das mútuas visitas familiares. O homem-animal parecia conhecer este comportamento o que o impulsionava a sair dos esconderijos. Os perigos maiores sucediam-se nas sextas-feiras treze, quando “as bruxas encontravam-se soltas”. A vontade de propagar a espécie levava-o a desesperada procura por companhias femininas, por isso atacaria sem dó nem piedade. A história do lobisomem, portanto, gerava necessidade de precauções, pois nenhuma alma viva almejava ser atacada por essa esdrúxula criatura. As mulheres, em função dos temores de ataques, tratavam de retornar cedo às residências, pois este fato sucedia-se com o pôr-do-sol.
Os casos de estupro foram raríssimos nas diversas comunidades de procedência germânica.

(Texto extraído do livro “Contos do Cotidiano Colonial", página 26, de Guido Lang)

Crédito da imagem: https://scandnavia.fandom.com

quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

O divino detalhe

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Deus! Todo Poderoso, pela tradição oral, precisou tomar uma atitude radical. Este, diante do desleixo, certificou-se da necessidade de implantar a eficiência na criação humana!
Ele, aos órgãos das necessidades vitais, procurou afixar de forma segura e sólida. Os descuidos e esquecimentos, de muitos espertos, acabariam numa tremenda briga e confusão!
O mau exemplo serviu de inspiração ao radical procedimento. Um singelo exemplo, da imprópria conduta, o conscientizou da necessidade de precaução e solução!
Um malandro, no início da divina obra, ousou atender e satisfazer as necessidades fisiológicas. Este, a própria surpresa, havia esquecido do órgão genital e traseiro à tarefa!
A alternativa, em meio ao desespero como solução, foi querer emprestar o alheio. Os amigos e conhecidos, na correria e pressa, foram requisitados como quebra galho!
Eles, no constrangimento, negaram-se prontamente aos empréstimos. Os apuros e urgências foram intensos. O desleixado, numa próxima, aprendeu em não esquecer o básico!
A solução, como resguardo, consiste em afixar e prender. O cidadão, junto ao patrimônio, convém precaver e zelar. Os empréstimos resultam em desconfianças e falatórios!
O indivíduo, na filosofia do descuido, vive continuamente arrumando e labutando! “Os rabos de foguete”, para certos relapsos, ensinam unicamente as duras lições de vida!
Os pedidos, da alheia cedência, ostentam-se impróprias solicitações. Onde todos mandam e usam, poucos zelam pela conservação e preservação!

                                                                             Guido Lang
 “Contos do Cotidiano das Vivências”

Crédito da imagem: http://comunhao.com.br

O dom da palavra

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Aquele guri, filho das colônias, mantinha algo de diverso do tradicional da gurizada. Este, na ímpar vocação, possuía o carisma de chamar e prender atenção!
O rebento, de humilde e retirada família, convivia com dificuldades e necessidades. A alimentação havia na essência. O dinheiro via-se na carência. O jeito foi adequar-se a situação!
Os pedidos, da alheia cortesia e gentileza, tornaram-se marcante realidade. O exemplo, entre inúmeros empecilhos, consistia em achegar-se e deslocar-se às cidades!
As caronas, de eventuais e ocasionais condutores, transcorriam com carroceiros, leiteiros, taxistas e tratoristas. O menino, entre o pessoal, absorvia atenção e compaixão!
O fulano, no desfecho das histórias, ostentava a ímpar e nobre palavra. O comportamento, numa aparente deseducação, sucedia-se entre crianças, jovens e idosos!
O tempo, como líder nato, revelaram a profissão e vocação. A política, por gestões, conduziu ao mando da cidade. Um prefeito carismático e ousado chefe partidário!
O indivíduo, nalguma atividade, vê-se como destaque e expressão. A esperteza e inteligência consistem em conciliar conhecimento e habilidade com o “ganha pão”!
A vocação, no sublime dom, salta aos atentos e entendidos olhos. O cidadão, em quaisquer circunstâncias, pode jamais negligenciar ou subestimar a alheia capacidade!

Guido Lang
“Crônicas das Vivências”

Crédito da imagem: www.prmarcoramos.blogspot.com

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

A lição de economia

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A fulana, com papel de mãe e pai, ensinou economia às filhas. Elas, como experiência, ganharam as singelas mesadas. O objetivo consistia em assimilar os fundamentos financeiros!
Os parcos valores, angariados a duras penas, precisaram de racionalização na administração. As estipuladas quantias, no início dos meses, viam-se destinadas aos gastos pessoais!  
A recomendação, sob a ameaça de corte, consistia em fazer apontamentos. Cada dispêndio era anotado e mostrado a genitora. A contabilidade via-se sinônimo de eficiência!
A sabedoria, uma vez comprovada, aboliu a inicial fiscalização. O controle, num dos principais ensinamentos maternos, tornou-se aprendizagem nobre à existência!
Os registros levaram aos moderados gastos. O dinheiro, ganhado no duro esforço e suado trabalho assalariado, necessitava render. O pouco assumia ares de multiplicação!
O patrimônio, em anos e décadas, avolumou-se em mãos familiares. O flagelo, das contadas moedas, serviu de exemplo para afastar o temor das carências e pobreza!
Alguns procedimentos, na hora da aplicação, doem no coração. O tempo revela o acerto ou desacerto dos ensinamentos! Os pais precisam ostentar o discernimento!
O princípio básico, no capitalismo, obriga a racional administração dos recursos financeiros. A tradição familiar, através dos exemplos práticos, costuma ser a principal escola monetária!

                                                                         Guido Lang
“Contos do Cotidiano das Vivências”

Crédito da imagem: https://www.consul.com.br