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segunda-feira, 25 de março de 2013

A antecipada morte



Uma senhora, com o marido muito adoentado, labutou anos nos cuidados deste. Ele, nos anos da convivência familiar, tinha sido uma boa companhia e parceria. A diabete, conforme a constatação médica, dar-lhe-ia pouco tempo de vida.
A mulher, para evitar atropelos e preocupações de última hora, antecipou-se aos eventuais problemas. A funerária deixou pré-combinada. O religioso, da confessionalidade familiar, deixou de sobreaviso. A roupa social, como calça, camisa, casaco e gravata, providenciado...
O marido, numa ímpar casualidade, viu a vestimenta pendurada no armário/estendida no cabide. Ele ficou adoidado com as encomendações e prenúncios. A solução, para não dar o gostinho (de verem-se livre dele), consistiu em melhorar de estima e saúde. Este, num assombroso sobro de sobrevida, tratou de revigorar-se (“diante da aparente afronta e torcida”).
A surpresa adveio no decorrer do tempo. Ele procurou viver ainda alguns bons e majestosos anos (“até bater na porta dos céus”). Este, à mulher, não queria dar o gosto de enterrá-lo com a vestimenta. O indivíduo, com sua aposentadoria/pensão, certamente pensou “em algum Ricardão fazer festa” (como companhia/parceria da esposa/viúva).
Os equívocos igualmente servem como belos exemplos de vida. A morte, em quaisquer contextos, assusta os viventes e os faz refletir sobre os desígnios. Viúva(o) é aquela pessoa que vai e não o ser que fica.

Guido Lang
“Singelos Sucedidos do Cotidiano da Existência”

Crédito da imagem:http://www.lojasdeternos.com 

A carne e o cão


Ia um cão atravessando a nado um rio; levava na boca um bom pedaço de carne. No fundo da água viu a sombra da carne; a projeção no fundo do rio era muito maior. Ganancioso, soltou a que tinha na boca para agarrar a outra, a da sombra; porém, por mais que mergulhasse, ficou logrado.

Moral da história:
Nunca deixes o certo pelo duvidoso. De todas as fraquezas humanas a cobiça é a mais comum, e é todavia a mais castigada.

                  Esopo (Final do século VII a.C. e início do século VI a.C.)

                                     Crédito da imagem:http://colunas.revistaepoca.globo.com

domingo, 24 de março de 2013

A exclusiva dedicação


As pessoas, numa comunidade urbana, admiravam-se de determinado cidadão. Este começou do nada e cedo avolumou tesouros. A família, através deste, tornou-se proprietária de prédios e terrenos.
A riqueza, de forma contínua, somava-se ao conjunto dos seus bens. Alguma quadra, pelas conversas, lhe pertenciam (em localização privilegiada). Uma construção excepcional, como edifício, era outra rendosa propriedade. Muitos o invejavam, outros o admiram pelo amplo patrimônio e mente milionária.  Alguma loja frontal, como fonte de divisa, era o local de escritório e trabalho.
Um conhecido, num certo sábado de manhã, achegou-se ao espaço. Ele queria uma atenção de minutos para uma conversa informal. O cidadão, de imediato, elogiou-o pelo apego e disciplina ao trabalho. As pessoas, nas calçadas e ruas em geral, andavam para atender seus compromissos de compra e folga como final de semana.
O fulano encontrava-se atendendo e labutando (junto ao escasso número de funcionários). Outros, na calada da manhã, precisaram acertar umas contas e verem perspectivas de negócios. Ele, como empresário, marcou as seis da manhã. O conhecido, junto com o filho, achegou-se e encontrou-o tomando chimarrão e repassando as primeiras notícias.
Um pai, diante do filho (como acompanhante), explicou: “- Entendes o fato do sicrano ser dono de tamanho patrimônio? Ele concentra-se e esmera-se na sua ocupação profissional. Este não fica até as dez horas da manhã na cama e daí pensa em iniciar as tarefas. A manhã daí transcorreu e nada de maior produção econômica! As posses tem alguma razão de serem merecidas e não surgem pela mera casualidade!”  Uma referência ao descompromissado filho e adepto de algum soninho (a mais na aurora do dia).
As pessoas ambicionam os bens alheios, porém querem distância dos encargos. Poucos ainda dão a vida pelo trabalho ou a labuta constitui-se na sua filosofia. As mãos milagrosas tem sua explicação de ser e não tem o poder por mera casualidade.  Quem, a cada dia carrega um punhadinho de terra, avolumou uma montanha até o final da existência. “Deus ajuda a quem se ajuda” ou “Deus ajuda a quem cedo madruga”.

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano Econômico”

Crédito da imagem: http://www.guiadasdicas.com

A raposa e a cegonha


A raposa e a cegonha mantinham boas relações e pareciam ser amigas sinceras. Certo dia, a raposa convidou a cegonha para jantar e, por brincadeira, botou na mesa apenas um prato raso contendo um pouco de sopa. Para ela foi tudo muito fácil, mas a cegonha pode apenas molhar a ponta do bico e saiu dali com muita fome.
-Sinto muito disse a raposa, parece que você não gostou da sopa.
-Não pense nisso, respondeu a cegonha. Espero que, em retribuição a esta visita, você venha em breve jantar comigo.
No dia seguinte, a raposa foi pagar a visita. Quando sentaram à mesa, o que havia para jantar estava contido num jarro alto, de pescoço comprido e boca estreita, no qual a raposa não podia introduzir o focinho. Tudo o que ela conseguiu foi lamber a parte externa do jarro.
-Não pedirei desculpas pelo jantar, disse a cegonha, assim você sente no próprio estômago o que senti ontem.

           Moral da história: 
Quem com ferro fere, com ferro será ferido.

Esopo (Final do século VII a.C. e início do século VI a.C.)

Crédito da imagem: http://asfabulasdeesopo.blogspot.com.br

sábado, 23 de março de 2013

A escamoteada vingança


Um produtor rural, com o avanço da urbanização, cedo viu sua propriedade agrícola próxima à cidade. A instalação duma vila cedo causou-lhe aborrecimentos com o lixo. Este, a todo instante, via-se desovado no interior das plantações.
Um empecilho, aqueles muitos e variados plásticos, no contexto do manejo das máquinas. Ele, durante um bom tempo, procurou conviver e suportar a lixeira. O constante e progressivo acúmulo de materiais levou a pedir providência dos responsáveis do meio ambiente.
O agricultor, num belo dia, pegou os responsáveis municipais para mostrar a indecência. “Corpo mole aqui e acolá e nada de tomar providências e resolver problemas”. O cidadão, numa ousadia ímpar, achegou-se ao momento de pedir a colaboração dos moradores próximos.
Este, diante dos muitos forasteiros, cedo arrumou uma aparente desconfiança e inimizade. Alguém viu-se deveras ofendido diante dos pedidos e reclamos. Uns incompreendiam o fato da lavoura não servir de depósito clandestino de lixo. Os dejetos, diante do recolhimento dos lixos, era só colocar nas lixeiras próximas.
O plantador continuou com sua tradicional lavoura de milho. Ele precisava produzir o cereal para silagem das vacas. Uma forma de armazenar e suavizar as dificuldades de trato no inverno. A plantação, uma vez com espigas constituídas, conheceu o trabalho da máquina de silagem.
Esta, como de costume, rodeou a lavoura, porém lá adiante conheceu um estranho barulho. Algum ferro, em forma de espeto de churrasco, encontrava-se escamoteado em meio às plantas. O despercebido artefato cedo deu os estralos no interior do maquinário. Os prejuízos fizeram-se sentir no bolso e no tempo. A necessidade de redobrar as atenções, nas vindouras colheitas, fizeram-se imprescindíveis.
O indivíduo desconhece as reais intensões e interesses de muitos. Algumas pessoas, nalguma afronta, parecem ter prazer em colocar empecilhos e criar problemas. O lixo, em quaisquer realidades, consiste num grave problema social. Uns poucos malandros, num conjunto de gente boa, servem de péssima referência dum lugar.

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano Colonial”

Crédito da imagem:http://www.fazendaadriana.com.br

O urso e as abelhas

Urso e Abelhas

Um urso procurava por entre as árvores, pequenos frutos silvestres para sua refeição matinal, quando deu de cara com uma árvore caída, dentro da qual, um enxame de abelhas guardava seu precioso favo de mel.
O urso, com bastante cuidado, começou a farejar em volta do tronco tentando descobrir se as abelhas estavam em casa.
Nesse exato momento, uma das abelhas estava voltando do campo, onde fora coletar néctar das flores, para levar à colmeia, e deu de cara com o matreiro e curioso visitante.
Receosa do que pretendia o urso fazer em seguida, ela voou até ele, deu-lhe uma ferroada e desapareceu no oco da árvore caída.
O urso, tomado pela dor pela ferroada, ficou furioso e incontrolável, pulou em cima do tronco com unhas e dentes, disposto a destruir o ninho das abelhas. Mas, isso apenas o fez provocar uma reação de toda a colmeia.
Assim, ao pobre urso, só restou fugir o mais depressa que pode em direção a um pequeno lago, onde, depois de nele mergulhar e permanecer imerso, finalmente se pôs à salvo.
              
Moral da História:
É mais sábio suportar uma simples provocação em silêncio, que despertar a fúria incontrolável de um inimigo mais poderoso.

                     Esopo (Final do século VII a.C. e início do século VI a.C.)

                                            Crédito da imagem: http://sitededicas.ne10.uol.com.br

sexta-feira, 22 de março de 2013

Um mimo escolar


Um professor, durante décadas, atuou nas escolas das periferias urbanas. Este, como filho das colônias, adorava trabalhar com o pessoal carente e modesto. Ele, com os milhares de alunos passados em suas mãos, pode aprender muito da experiência e vivência. Os alunos, do cotidiano dos lares e ruas, traziam os acontecimentos, informações e malandragens.
O profissional, em termos gerais, descobriu a desmotivação de inúmeras crianças (em precisar ocupar-se com os conteúdos teóricos). Os estudantes, com raras exceções, careciam de atrativos com a arte de calcular, escrever, ler, interpretar, refletir, transcrever...  A esperteza como paliativo de solução foi dar-lhes algum mimo.
Aqueles ágeis e interessados, na proporção de concretizar as tarefas propostas (de cada dupla de períodos), ganhavam um tempo (de cinco a dez minutos) à de prática de esportes. Uma forma de exercitar os músculos (do muito sentar).  Os concluintes, depois de acompanhados e avaliado na qualidade das tarefas, podiam ocupar-se dum esporte (futebol ou vôlei).
Os resultados, em dias e semanas, viram-se magníficos. As choradeiras e lamúrias, do “de novo professor”, foram suprimidas. O alunado vira-se atento e predisposto a iniciar os estudos da disciplina. Os tradicionais desinteressados e morosos obrigaram-se a estudar e trabalhar nos conteúdos. Eles ambicionavam os idênticos benefícios e vantagens dos colegas (dedicados e esforçados).
O rendimento, em função duma modesta estratégia, mudou toda uma metodologia e rotina. O ensino, do valor do estudo como trabalho, foi primordial assim como “primeiros os encargos e depois os prazeres”. A prática foi possível unicamente com o aval da coordenação e direção escolar. O profissional, em momentos, obriga-se a fazer aquilo que nem sempre bem concorda.
Singelos mimos fazem muita diferença no geral e produzem magníficos frutos. Os resultados medíocres exigem mudanças de enfoque e prática. Os paliativos nem sempre são adequada solução, porém são caminhos para suavizar ônus. Sábio é aquele que consegue extrair água de pedra! Cavoucar ouro em meio à terra seca!

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano Urbano”

Crédito da imagem: http://www.educacaoassis.com.br