Translate

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A lenda do Lago Vulcânico


     A tradição colonial fala-nos da existência de um lago vulcânico, que existiria no topo do Morro Staggemeier (Staggemeiersberg). Este, com os seus 360 metros de altitude, situa-se entre as localidades da Boa Vista Fundos, Capivara, Pontes Filho e Catarina. O depósito da água seria fruto de uma cratera, que teria se originado da chaminé de um extinto vulcão. O fenômeno teria ocorrido dum trabalho geológico de milhões de anos, quando nossa litosfera conheceu fúria da natureza. O espaço, na atualidade, seria uma fonte de abastecimento de animais e aves, que habitariam as proximidades.
       O Morro dos Staggemeier é um recanto ímpar, porque, a distâncias, sinaliza as pacatas localidades circunvizinhas. A história, na prática, revela-se uma criação da imaginação. O tempo, através de séculos, de intempéries, preencheu o buraco da antiga chaminé. Um discreto plano, próprio para acampar e vislumbrar as maravilhas dos vales do Arroio Boa Vista e Vermelho, viu-se tomado pela vegetação arbórea. Alguém inclusive deu-se o trabalho de transplantar um eucalipto, que, em função do sufocamento, não vingou; outros cravaram crateras na ânsia de procurar metais preciosos; um e outro efetuou sinais nas árvores com razão de assinar sua passagem pelo lugar...
     A elevação, na sua magnífica imponência, esconde o passado da história geológico da terra, quando, nos tempos da Revolução Federalista (1892 – 1894), serviu também de refúgio a perseguidos políticos (entre maragatos e pica-paus). O silencioso morro mostra-se adormecido, quando, outrora, “cuspiu fogo” pelas cercanias. Este, na atualidade, parece apreciar o trabalho colonial, quando, mãos calejadas, fazem o torrão prosperar. As belas lavouras, de cereais, forragens e matas reflorestadas, somam-se a formosura do cenário colonial, que mescla facetas da maravilha da criação divina e humana.
     Morro Staggemeier! Ostente tua formosura e onipotência; enaltece tua beleza e fascínio, desperte a curiosidade e paizão pela esplêndida visão dos vales rurais.

Guido Lang
Jornal O Eco do Tirol, p. 03
30 de julho de 2005

A LENDA DA CRIAÇÃO DO HOMEM

Os peles vermelhas, índios nativos das grandes planícies centrais dos Estados Unidos e valentes guerreiros, explicam do seguinte modo a criação do Homem pelos seus deuses: "O grande Manitu fabricou um homem de barro e meteu-o no forno: mas tirou-o antes do tempo e ficou mal cozido. Este é o homem branco. Em seguida, fabricou o outro e voltou a metê-lo no forno, mas deixou-o tempo demasiado e o resultado foi ficar completamente tostado. Este é o homem negro. Então o grande Manitu compreendeu que devia proceder com maior cuidado. Tomou um pedaço de barro, tornou a esculpir um novo homem e colocou-o novamente no forno, tirando em tempo oportuno. O resultado foi fantástico, magnífico, surpreendente... Este é o pele vermelha, superior a todas as criaturas."
Cada qual acha-se mais bonito e obra prima de algum criador divino. O meio termo entre extremos parece o mais aconselhável. Os gestos variam conforme as culturas.

Guido Lang
Jornal O Eco do Tirol
14 de janeiro de 2005

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

A CAIXA DA ÁGUA

Um cidadão procurou avolumar uma porção de água, que pudesse encher seu reservatório. Este, durante horas deixou pingar a torneira, no que o tempo possibilitou o enchimento da caixa. Poderia, no momento posterior, tirar uma porção do valioso líquido, no que, no curto espaço, repunha-se a quantidade original. Mantinha, daquela época em diante, uma valiosa água, que abastecia a família e ainda ostentava reservas.
Exemplo semelhante sucede-se com os poupadores, que diariamente reservam um pouco do suor do trabalho para o futuro. Estes míseros centavos vão enchendo a conta, que, algum dia, originam somas volumosas. As retiradas de pequenas quantidades, acabarão repostos com correções e juros, enquanto o capital original ficará resguardado.
A caixa, na época de dificuldades, revela-se difícil de armazenar conteúdos em meio a terra sedenta. Aos corajosos e poupadores, na ânsia de armazenar, nada é impossível. Quem poupa e guarda na fartura, tem reservas na penúria. O pingado, com o tempo, origina volumes inimagináveis.

Guido Lang
Jornal Eco do Tirol
29 de janeiro de 2005

A cantoria satânica

A Boa Vista Fundos/Teutônia/RS-Brasil, como picadas circunvizinhas, eram habitadas por bandos de macacos, que, entre inúmeras outras espécies, eram moradores efetivos da milenar Mata Subtropical Pluvial. Estes, nas caladas dos dias, faziam um barulho infernal, quando os bugios avermelhados e pretos impunham medo pelos gritos. Os bichos faziam assobios e guinchos fortes, que salientavam-se nas épocas do prenúncio das chuvas. Os animais, ao longo das trilhas da picada ou roça, impunham temores aos humanos, invadindo e ocupando seu secular hábitat das altíssimas e centenárias árvores da gigante e milenar floresta. As paragens solitárias, com o horizonte a perder de vista, complementava-se com outras fobias, que advinham das “feras do mato”. Estas, entre outras, constituíam-se de aranhas, cobras, jaguatiricas, porcos-do-mato...
A cantoria dos macacos era mais intensa nos morros, quando os gritos ecoavam pelos quatro quadrantes do Vale do Arroio Vermelho. Algumas ressonâncias davam impressão de macabros concertos, quando a algazarra dos símios, em momentos crescia, formando um aparente coro satânico. Alguns moradores importunavam-se com a cantoria, enquanto outros achavam graça. Os humanos cedo constituíam uma sabedoria com este canto, que ocorrendo significava chuva em aproximados três dias. As culturas, sobretudo as bananeiras e mamões, viam-se visitados, no que faziam um consumo generalizado. Alguma surpresa dos bichos, num aparente descuido humano poderia suceder-se, no que os animais, estendidos nalgumas folhas de vegetal, atiravam excrementos. Eles adoravam o espaço dos altos galhos das volumosas árvores, que tornava difícil apanhá-los ou repreendê-los; procuravam colocar guarda na razão de proteger-se de forasteiros e predadores inconvenientes.
Os rurais desconhecem as causas do desaparecimento dos animais, que atribuiu-se a devastação da mata, migração na direção dos resquícios de floresta e sucessivas pestes. Os macacos, em épocas, apareciam mortos nas lavouras ou matos, enquanto os urubus davam-se o trabalho de digeri-los. O rejuvenescimento da floresta promete uma nova aurora à espécie, que promete sua presença em arroios, encostas, morros e vales teutonienses.

Guido Lang
Jornal O Eco do Tirol, p. 03
10 de setembro de 2005

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Um clarão de luz


A memória colonial ostenta uma explicação com relação à origem do nome de Estrela. A municipalidade, de 1876-1983, foi município mãe de Teutônia e Westfália, quando era muito conhecida pelo espírito de trabalho e índices de alfabetização. Inúmeros teutonienses, com relação à naturalidade, nasceram nesta próspera comunidade, quando, no período escolar e seio familiar, escutavam o relato.
Os europeus, na sua empreitada de europeizar o continente americano e extrair riquezas, foram incursionando interior adentro. Estes, de maneira geral, valiam-se dos nativos catequizados ou civilizados com razão de orientá-los nos campos e florestas. Os rios eram os caminhos naturais, que levavam e traziam os desbravadores e caçadores (de índios e metais).
A tradição oral narra-nos que um punhado de europeus, num belo dia, lançou-se aos rios da bacia do Jacuí. Estes, por dias ou semanas, defrontaram-se com os rigores das chuvas de inverno, quando a carência de sol e excesso de umidade importunavam as pacatas almas. Estes pioneiros, na subida do curso do Taquari, defrontaram-se com céu nublado, quando um barqueiro, numa altura próxima a atual localização de Estrela (margem direita), visualizou um clarão de luz. Este, no instinto de alegria e satisfação, teria gritado: “– Olha lá! Uma Estrela.” Os companheiros advieram para presenciar o fato, quando decorreu a denominação. A curiosidade persiste do feixe de luz ter sido o reflexo do espelho da água do Taquari, ou mesmo, ser um astro de luz própria.
O município, com o afluxo posterior dos imigrantes, tornou-se um orgulho de progresso e trabalho, quando virou referência de colonização em terras americanas. Possui uma denominação sui generis, quando comparado aos nomes de origem indígena ou religiosa; uma luz que irá brilhar por muitos séculos para muitas gerações.

Guido Lang
Jornal O Eco do Tirol, p. 03
17 de setembro de 2005

Crédito da imagem: http://vanezacomz.blogspot.com.br/

Os plantadores de floresta


Pacatos colonos, extraviados entre encostas, morros e vales das inúmeras localidades, realizavam um trabalho insano. Estes, a partir de 1970, levam um novo colorido ao cenário colonial, quando as áreas agrícolas, outrora roxas no período de plantio, ganharam um verde definitivo.
Um trabalho silencioso, praticado no cotidiano dos dias semanais, encheu de árvores as antigas lavouras. A acácia e o eucalipto, numa floresta reflorestada e rejuvenescida, cobre o cenário das roças, que, numa labuta braçal, foi duro conquistar pelos pioneiros. O antigo chamado dos bois, no empenho da aração ou transporte de carroça, deu espaço ao ronco de motosserras, que extraem dividendos do plantio de mato. As fumaças, nos cantos e recantos, vêem-se subir no interior das propriedades, quando utilizam a matéria-prima à fabricação do carvão vegetal. Caminhões, volta e meia, cortam as estradas coloniais ou comunitárias, no que vêem-se carregados de madeira.
O tamanho da odisseia aprecia-se a partir de alguma encosta, quando um verde de árvores estende-se por quilômetros. Um quadro real da mudança de ciclo econômico, no que o minifúndio ganhou novos ares. As culturas anuais, praticadas por décadas, caíram no desleixo diante da inovação e mecanização agrícola, quando as encostas de morros e pequenas propriedades não puderam competir com os latifúndios do Brasil Central. Uma visão indescritível há décadas para aqueles que tiveram o privilégio de conhecer a pujança agrícola do passado. Os novos tempos acompanham o rejuvenescimento da fauna, que, com abundância de matas, ganham novo alento e refúgio.
Os plantadores, através de intensiva procura nos viveiros, não finalizaram sua façanha, quando novas áreas, a cada safra, conhecem o cultivo arbóreo. O comércio da madeira promete ser um negócio bilionário, quando os asiáticos precisam de matéria-prima, a sociedade de papel e o mundo de ar. O Vale do Taquari faz sua parte na recomposição da natureza.

Guido Lang
Jornal O Eco do Tirol, p. 03
01 de outubro de 2005

Crédito da imagem: http://agrobrasiltv.com.br/


terça-feira, 31 de julho de 2012

A IMPORTÂNCIA DO REGISTRO

"De que adiantas tu ter vivenciado grandes experiências sem registrá-las?
De que vales tu escrever sobre plagas distantes, esquecendo-se da tua aldeia?"


Júlio Lang