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quarta-feira, 4 de março de 2020

O CONCEITO DE CHATO

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Guido Lang

O ancião, advindo de origem humilde, assimilou a arte de multiplicar riquezas. Ele, na dor, aprendeu a necessidade de extrair o máximo dos bens. Os artigos, em instalações, máquinas e trabalhadores, deveriam ser “espremidos” para cobrir custos e gerar lucros. A nobre gerência, em décadas de economias e reaplicações, criou um punhado de empresas e prédios. O fulano, em adiantado ancião, perpassava as linhas de produção. A função, na efetiva fiscalização, assistia em detectar desperdícios e instruir empregados. Exemplos banais: desperdício de água, luzes acessas desnecessárias, materiais subaproveitados na lixeira, etc., sinalizavam imprudências nas tarefas... O dono, no conceito funcional dos subalternos, sobrevinha em um tremendo chato e inconveniente. Este, no sutil, era invejado pela bonança, ciência e rigor. A pessoa em qualquer idade e situação, pode ser instrutiva e útil. 

Livro: Ciência dos Antigos

* Crédito da imagem: https://www.vozdobico.com.br/

sábado, 29 de fevereiro de 2020

O apressado fornecimento

Guido Lang

O filho das colônias, no comércio de artigos coloniais, recebeu encomenda do conhecido. O quilo, em mel, podia ser vendido ao ex-colega de serviço. Este, no anterior ao expediente de trabalho (do outro dia), correu atrás do produto. O vendedor, na chegada ao trabalho, deparou-se com o pedido (exposto na sua escrivaninha). A preocupação, na apressada entrega, ligou-se na eventual mudança de projeto ou compra na concorrência. A sua mãe, em perita financeira, havia ensinado a correr atrás das oportunidades monetárias. A pessoa, na questão de dinheiro, carece em precisar chamar ou pedir em dois momentos. A exclusiva solicitação costuma ser suficiente. No mercado, com a saturada oferta de produtos, convém “seivar clientes” (no preço bom e qualidade dos itens). Os vários miúdos, reunidos no conjunto, somam o amontoado no resultado. Alguns são abonados, na razão de darem-se o trabalho para tanto!

Livro: Ciências dos Antigos

Crédito da imagem: https://caraoucoroa.blogosfera.uol.com.br/2019/04/04/fazer-moeda-de-r-005-custa-r-030-ao-governo-veja-outros-precos/

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

LANG "COLECIONA" 36 HISTÓRIAS AINDA NÃO PUBLICADAS

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O historiador e professor Guido Lang, 51 anos, é natural de Teutônia/RS, no Vale do Taquari. Tem 16 livros publicados e, no entanto, aguarda outras 36 obras para publicar.
Ele registrou as primeiras histórias há cerca de 30 anos. Fatos do dia a dia, cenas urbanas e o cotidiano da vizinhança renderam-lhe linhas e páginas de um improvisado diário, que ganha forma até hoje. São 10 mil páginas à espera de uma publicação. “Jacob Lang, A História de Um Imigrante e Pioneiro” foi o primeiro livro, que destaca a cultura germânica na região. “Tenho compromisso com a minha comunidade, onde me criei e estudei. É como voltar na história, fazendo parte dela”. O anseio em propiciar conhecimento às novas gerações é barrado pela falta de oportunidades (de convites de editoras para publicação das obras).

*Fonte: Jornal ABC, domingo, 16/05/2010.

* Digitado por Júlio César Lang.

sábado, 22 de fevereiro de 2020

O TESOURO DOS MUCKER

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Guido Lang

Uma história, narrada de boca em boca entre membros de famílias tradicionais da região, relaciona-se ao tesouro dos Mucker. Aventureiros esporádicos ambicionaram deparar-se com as malfadadas riquezas, que teriam sido escondidas ou enterradas pelos seguidores da Jacobina Mentz e João Jorge Maurer. O conjunto de jóias e moedas, de ouro e prata, encontrar-se-ia escondido nalgum esconderijo das encostas dos morros, que localizam-se entre os municípios de Dois Irmãos/RS, Campo Bom/RS e Sapiranga/RS. Um amontoado de relíquias ímpares, que teriam, em boa dose, sido trazidos da Alemanha e outra parte acumulada durante o Império Brasileiro. A colonada, em meio as enormes dificuldades de toda ordem, mantinha uma extrema filosofia de poupadores, porque, a qualquer custo, quisera resguardar economias para os infortúnios da vida. Os recursos, advindos de suadas economias e heranças familiares, teriam sido ajuntados durante a formação e evolução da “seita”, quando ambicionaram talvez adquirir algumas armas, manter um espírito de solidariedade (como os cristãos nos Atos dos Apóstolos), custear encargos comunitários...
Os comentários e fofocas, das riquezas dos Mucker, corriam soltos na boca da população circunvizinha ao Ferrabraz, quando sucederam-se aos conflitos e eventos bélicos (abril a agosto de 1874). Os forasteiros, vindos das diversas procedências, invadiram os lugarejos próximos ao Morro Ferrabraz, quando quiseram colocar as mãos naquela fortuna. Inúmeros indivíduos diziam-se combatentes, quando lutaram contra a centena de seitários dos Maurer. As matas e plantações viviam repletas de aventureiros, que pareciam, junto a diversos moradores, controlar os passos dos incompreendidos. As esporádicas escaramuças sucediam através de confrontos, disparos e incêndios de propriedades. A atrocidade, em meio ao conflito, era permitida pela segurança pública, pois movia-se um clima de guerra fratricida. A crueldade, reprimida há anos, tinha sobre quem recair, porque simpatizantes ou seguidores dos Maurer eram sempre os autores e os culpados. Os animais (domésticos), frutas e plantações sumiam das propriedades, quando as culpas poderiam recair sobre os fanáticos.
O desfecho sangrento, em junho ou julho de 1874, teria levado Jacobina e João Jorge Maurer a esconder as economias. Estes, às pressas em meio ao tumulto dos últimos dias, tê-los-iam escondido ou enterrado nalgum lugar das encostas ou sopé do morro, no qual poderiam resguardar as riquezas da exagerada cobiça adversária. Os poucos quilos de metais necessitariam de uma segurança, porque, em meio ao tamanho esforço e sacrifício em obtê-los e o valor sentimental constante, precisariam de guarda e proteção segura. A entrega eventual a familiares ou vizinhança poderia gerar a cobiça humana, que revela-se tão comum no gênero humano. A segurança maior poderia decorrer unicamente do seio da terra, que costuma, há séculos ou milênios, proteger tesouros metálicos. O lugar escolhido provavelmente processou-se num valo próximo a alguma árvore ou rocha, que poderia servir de posterior referencial seguro. O ato de esconder os metais acabou confiado a dois ou três indivíduos, que eram os próprios donos ou membros da família.
A hecatombe, em 02 de agosto de 1874, abateu-se sobre o grupo familiar íntimo, quando sucederam-se os assassinatos e suicídios. As lideranças caíram na desgraça, quando, em meio à desconfiança e infortúnio, a morte levou o segredo do esconderijo. Os autores esqueceram de revelar o paradeiro do tesouro, que parece ter contribuído para aumentar o número de inimigos. Este talvez ainda repousa nos brejos e matos circunvizinhos ao Ferrabraz, quando as mãos humanas carecem de conhecer o seu conteúdo. Os espíritos dos perseguidos, em meio aos remorsos da chacina, arrogam-se por ventura os direitos de resguardá-los.
Inúmeros aventureiros e moradores, conhecedores da história dos bastidores do Episódio do Ferrabraz, ousaram colocar as mãos nele. As tentativas falharam e outras continuam a desafiar a cobiça e a imaginação, em meio às picadas e trilhas da vegetação. Vários elementos procuram disfarçar as inúteis procuras, quando alegam praticar caçadas ou trilhas ecológicas (com vistas de conhecer o cenário e inteirar-se da vegetação). Alguns dão razão ao espírito de aventureiros e caçadores de aventuras, que, na atualidade, encontra alguma similaridade com o desenterrar dos velhos galeões espanhóis. Uma façanha interessante para amantes de caminhadas ecológicas e desbravadores de enigmas.
O mistério do tesouro dos Mucker, portanto, parece muito vivo aos apaixonados e estudiosos do assunto.
Uma história comunitária contada em diversas conversas informais ou de ouvido em ouvido entre membros da descendência germânica de famílias tradicionais, que, em boa dose, ouviram falar do tema Mucker. Este fato, aos olhos da atualidade, parece absurdo e incompreendido, quando, na época, alimentou tamanho ódio, perseguição e vingança entre pacatos moradores (de maneira geral todos aparentados). Prova-nos, a semelhança de outros exemplos, a capacidade de irracionalidade humana, que supera, em situações, a irracionalidade animal.

* Fonte: Jornal O Fato, número 1006, 06 de fevereiro de 1996, Campo Bom/RS.

* Digitado por Júlio César Lang.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

BANHADOS DO RIO DOS SINOS

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Guido Lang

O banhado de Campo Bom, conhecido como o primeiro e principal pântano na descida do curso fluvial, apresenta um cenário entristecedor, porque continuamente e progressivamente sofre agressões com aterros, caçadas, canalizações, desmatamentos, extrativismo e lixo... Um recanto e refúgio natural, patrimônio de gerações, acaba permanentemente ceifado e mudado em função da cobiça humana, desde que a valorização imobiliária descobriu o grande filão econômico. Diversas áreas, da noite para o dia, acabam aterradas ou canalizadas, e, em seguida, pipoca mais uma construção, que, sob forma de casebre ou olaria, rouba um pedacinho de terra, de modo que o espaço de filtração dos mananciais hídricos acaba reduzido.
Os lixos, sobretudo plásticos, espalham-se aos “quatro ventos” e contrastam com o ambiente natural. Estes, de todas as formas e em quantidades inimagináveis, são atirados e trazidos pelas águas, revelando facetas trágicas do nosso modelo de vida. Os odores, oriundos de elementos inorgânicos e orgânicos, espalham-se ao longo da estrada geral da Barrinha. Forasteiros e visitantes interrogam-se sobre a procedência desses cheiros. As águas escuras e mal cheirosas, no período das cheias, escondem a poluição líquida e os dejetos domésticos e industriais. As estiagens também denunciam a irracionalidade humana, quando poluímos nosso habitat com elementos tóxicos.
A população, de maneira geral, desconhece ou ignora a importância dos banhados, que não existem em vão ao longo do curso fluvial. Eles possuem a função primordial e sublime de purificar águas, que cruzam uma das áreas mais industrializadas do território gaúcho. O controle da vazão, na época das enchentes, caracteriza outra finalidade, quando são um grande regulador das excessivas precipitações. A contenção das cheias sucede-se pela contenção parcial da massa líquida pelos banhados, que momentaneamente, não consegue desaguar no Guaíba. A oxigenação do ar, num contexto de maior poluição atmosférica (em decorrência da massiva combustão automotora), revela-se outra contribuição ambiental. Os cantos e recantos de lazer e recreação, em forma de balneários, campings, entre outros, podem ser uma fonte econômica, porque são um refúgio nos verões quentes e secos para as populações carentes. Os extrativismos animal e mineral, apesar das desrecomendações e proibições, são outro fato corriqueiro. Extrai-se argila e areia assim como se promovem caçadas e pescarias. A extração de madeiras para queima (como lenha) é outra triste sina.
O principal filão econômico dos banhados, nas próximas décadas, ainda está por vir, quando o espaço poderá ser canalizado para massiva produção de peixes. Centenas de reservatórios artificiais poderão ser edificados, podendo ser aproveitados também como espaços de camping. O extrativismo mineral, de argila, mantêm-se uma atividade produtiva centenária. Fornos e olarias continuarão produzindo artigos de barro. Resquícios esparsos da floresta natural, com raras espécies animais, poderão e serão motivo de muita curiosidade aos olhos humanos. Então crianças e jovens adorarão conhecer “algumas migalhas do ambiente geográfico original”. A necessidade de águas consumíveis forçará a tomada de medidas de preservação ambiental, que terão um custo monetário astronômico.
A sociedade como um todo é culpada pelo lamentável e periclitante estado dos banhados do Rio dos Sinos. Os banhados de Campo Bom, sobretudo o da Barrinha, somam-se ao descalabro ambiental, porque medidas impopulares deixaram de ser tomadas. O Poder Público, em todas as instâncias, é culpado, porque contribui ao permitir aterros, canalizações, “desova de lixos”, edificações... A avançada e moderna legislação ambiental existe apenas no papel, enquanto as deficiências continuam decorrendo da falta de vontade de sua aplicação e cumprimento.
Uma consciência ecológica, através da educação ambiental, está sendo criada e incutida nas crianças, mais é insuficiente para inibir tamanha destruição da reserva ecológica. Um punhado de preservação permanente descreve e desenha um trágico cenário, onde a natureza é descrita como mero instrumento de lucro e de completo domínio humano. Vê-se um exemplo drástico de desleixo com o patrimônio de gerações, que outrora, majestoso, “imitava o Reno” e que, na atualidade, reproduz uma sarjeta.

Fonte: Livro "Histórias do Cotidiano Campobonense - Coletânea de Textos" (páginas 49 e 50 - ano 1998), de Guido Lang.


*Crédito da imagem: https://www.jornalnh.com.br/


sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Os enlameados no melado

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Guido Lang

O colono, na arte do fabrico do melado (“Schmier”), moeu o amontoado de cana. O trapiche, na força animal, espremeu as “muitas varas”. O caldo, na extração sucessiva, foi cozido no progressivo. O calor, nas consecutivas horas de aquecimento, extraiu excessos de umidades e reuniu as inseridas impurezas. O fabricado produto, resfriado e inserido nos vasilhames, conduziu na apreciação das migalhas (no mantido tacho). A criançada, em “escadinha de filhos”, afluiu com colheres em punho. A Schmier, em robustas colheradas, viu-se raspada e reunida à degustação. Os sucessivos lambe-lambes, no amplo recipiente, conduziram em um ambiente melecado para a gurizada. O doce, no disseminado, foi à alegria e o apetite dos insetos. As crianças, no desfecho da degustação, sobrevinham imundas na aparência exterior. O idêntico, no melecado, acontece aos desonestos e mentirosos. Estes, na antecipada hora, verificam-se enlameados na própria sujeira. “A mão do correto e justo (Deus) perpassa por toda a Terra”.

Livro: A Ciência dos Antigos

Crédito da imagem: https://alavoura.com.br/

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

O proveito da ocasião

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Guido Lang

O filho das colônias (habitante natural do interior), na folga de domingo (de manhã), aproveitou ocasião. As tarefas, no acumulado do conjunto da casa e pátio, ganharam execução. O intento, em dias da semana, acontece em subtrair atropelos e encargos. O trabalho profissional, no “ganha pão”, assume mais concentração (em relação às energias corporais e reflexões mentais). O trabalho realizado, no conjunto da propriedade, consiste em colher frutas, cortar lenhas, organizar ambientes, reparar instalações, varrer pátio... A obra, no amiúde, sobrevém em acentuado ganho de tempo. A igreja, em cultos (ou missas), sucede na frequência ocasional. O convívio familiar, na folga, acontece no ínterim das atividades. As saídas, em eventos, passeios ou viagens, acontecem costumeiramente nas tardes. O trabalhador, na efetiva vocação, vislumbra afazeres em quaisquer ambientes e horas. O capricho e organização, no artificialismo das paisagens, absorvem labor e tempo.

Crédito da imagem: https://www.booking.com/hotel/br/chales-pe-da-serra.pt-br.html

Imagem meramente ilustrativa.