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terça-feira, 16 de abril de 2013

A generalizada lambança


Uma família, com amplas lavouras de cana, possuía a tradição de fazer cozidos de guarapa. O vegetal, numa dificuldade e paciência, via-se cortado no interior da roça. Uma cana, de touceiras sólidas, acabavam ceifadas e carregados nos veículos.
O produto, levado ao trapiche, via-se esmagado e exprimido. O caldo/suco extraído, como guarapa, servia para fazer cozido. Este, numa fervura de boas horas, extraía impurezas e excessos de líquidos. A evaporação, de forma lenta e progressiva, acabava num agradável e saboroso melado.
Esta, uma vez tirado do fogo, conhecia o lento e progressivo esfriamento do fervido/produto. As mexidas e remexidas do produto, de forma lenta e persistente, mantinha-se um segredo da qualidade da fabricação.  O melado, uma vez produzido, acabava colocado em diversos tachos ou vasilhames.
Um momento especial, como reunião familiar, consistia em extrair as sobras. Os familiares, com colheres em punho, extraíam o material grudado nas beiradas do panelão. A expressão comum consistia: “Raspar o panelão/tacho!” Os adultos e criançada, numa animada confraternização e convivência, reuniam-se ao redor do artefato. Colheradas aqui, brincadeiras acolá, conversas cá!
A prática acabava numa tremenda lambança. O pessoal, com nenhuma exceção, via-se adocicado pelos açúcares (mascavos). Um grude aqui e outro acolá! A solução consistia num bom dum banho e roupa limpa para espantar insetos e recomeçar atividades.
O idêntico, da lambança do panelões, relaciona-se a farra nos cofres públicos. Os falcatruas e malandros, com os muitos esquemas e maracutaias (na ausência de punições severas), lambuçam-se todo na abundância do dinheiro. Este, de forma abundante e contínua, avoluma-se em números virtuais (nas tesourarias das instâncias do Estado).
Uns administradores e gestores ficam impressionados com as somas. Alguns partem para os fins escusos e salvaguardar-se das penúrias futuras. Obras viciadas resultam em comissões e superfaturamentos conforme os comentários e noticiários.
A serenidade da consciência é uma dádiva divina. O cidadão, na proporção do desvio alheio, não precisa enveredar pelos caminhos escusos. Certos equívocos e roubos, uma vez concretizados, não tem como desfazer a fama de falcatrua e ladrão.
                                                                      
 Guido Lang
                                              “Singelas Crônicas do Cotidiano das Existência”

Crédito da imagem: http://chubbyvegan.net

O Leão e o Asno

Leão e Asno

Um leão e um asno combinaram que iriam caçar juntos. Em sua busca por presas, logo os caçadores viram um grupo de cabras selvagens que se esconderam numa caverna, e então resolveram traçar um plano para capturá-las. O asno entraria na caverna e se encarregaria de atraí-las para fora. O leão, claro, ficaria do lado de fora à espreita, pronto para atacá-las, tão logo de lá saíssem.
O plano funcionou com perfeição. Estando as cabras tranquilas, distraídas e confiantes de que estavam em segurança no seu retiro, não perceberam que o asno ali adentrara. O animal invasor, de surpresa, fez um barulho tão assustador, pulando e zurrando, com toda força que lhe era possível dispor, que as cabras, tomadas de pânico, não tiveram outra reação senão correrem para todos os lados assustadas.
E logo, um pouco recuperadas do susto, conseguiram encontrar a saída do confinamento, e julgando que estariam mais seguras do lado de fora, saíram dali correndo em disparada, apenas para caírem indefesas nas garras do Leão que, de prontidão, as aguardava à entrada da caverna.
Orgulhoso do seu feito, o asno saiu para fora da caverna e disse:
- Você viu como coloquei todas à correr?
Ao que o leão respondeu:
- Sim, sem dúvida, e se eu não conhecesse você tão bem, certamente que faria a mesma coisa que elas.

Moral da História:
O fanfarrão com seu vozeirão e exibicionismo, não é capaz de impressionar aqueles que já o conhecem.

                   Esopo (Final do século VII a.C. e início do século VI a.C.)

                                                Crédito da imagem: http://sitededicas.ne10.uol.com.br

segunda-feira, 15 de abril de 2013

A acirrada briga



Um criador, a dois jovens cachorros, foi comprar e trazer mimos. Um passatempo, no ínterim das horas, na proporção de estarem presos (nas correntes).
Estes, com a necessidade de mastigar e roer, ganharam uma porção de ossos. Os animais poderiam afiar os dentes e treinar os beiços. Os irmãos, como exercício canino, poderiam distrair e ocupar-se no pátio. O morador imaginava fazer um bem ímpar!
A realidade, na convivência dos fatos, revelou-se bem outra! Os instintos apurados, dos outrora domesticados lobos, trouxe ferrenhas e mortais brigas. Cada qual, numa fome e ganância anômala, queria escolher as melhores partes. Em outras palavras: resguardar todos os mimos para si. As desavenças maiores recaiam sobre as carnes e espelancas!
O tratador ficou assombrado e entristecido. A situação descreveu um fato inusitado: a consciência de ter adotado escamoteadas feras! Uns aparentes guardas/seguranças tornaram-se causa de aborrecimentos e preocupações.
O idêntico aplica-se em inúmeras famílias. Os pais, como garantia e sobra aos infortúnios, desdobram-se nos louros anos de vida para  criar e resguardar patrimônios. Os genitores, com os anos, envelhecem e perecem. Os rebentos, na proporção dos inventários, apropriam-se e degladiam-se pelos bens.
Estes, a semelhança de escamoteadas feras, estabelecem brigas e intrigas homéricas. Cada filho, com os seus, almeja a maior e melhor fatia dos espólios. Uns, tendo a idêntica mãe e pai, desconfiam e estranham-se pelo resto dos seus dias. Inúmeros cidadãos, por apropriação indevida e ofensas pessoais, deixam de conversar e conviver pelos anos!
Os cuidados mostram-se redobrados com quem convive com feras! Os instintos, nos gananciosos, sobrepõem-se ao bom senso e a inteligência. Queres conhecer os teus? Trate de emprestar e manejar dinheiro! A sabedoria popular versa: “ - Cachorro esfomeado come até osso e sabão!”
                                                                                       
Guido Lang
“Singelas Crônicas do Cotidiano da Existência”

Crédito da imagem: http://www.oiwo.com

O vento e o sol


O vento e o sol estavam disputando qual dos dois era o mais forte. De repente, viram um viajante que vinha caminhando.
- Sei como decidir nosso caso. Aquele que conseguir fazer o viajante tirar o casaco, será o mais forte. Você começa - propôs o sol - retirando-se para trás de uma nuvem.
O vento começou a soprar com toda a força. Quanto mais soprava, mais o homem ajustava o casaco ao corpo. Desesperado, então o vento retirou-se.
O sol saiu de seu esconderijo e brilhou com todo o esplendor sobre o homem, que logo sentiu calor e despiu o paletó." 

Moral da história:
“O amor constrói, a violência arruína.

                Esopo (Final do século VII a.C. e início do século VI a.C.)

                                          Crédito da imagem: http://marlyburity.blogspot.com.br

domingo, 14 de abril de 2013

Os absurdos da vida


A fecundidade humana caiu a índices assustadores nas últimas décadas. As famílias possuem ausência ou baixo número de filhos.
As causas deste comportamento são diversas. A criação de descendência tornou-se algo muito arriscado e oneroso. O risco advém dos caminhos escusos da criminalidade e drogadição. Os custos decorrem dos altos investimentos em educação e oportunidades profissionais.
O fato, no seio familiar, criou uma nova realidade. Inúmeros indivíduos, sobretudo da ala feminina, apegam-se a animais (para satisfazer o instinto maternal). Estas, em função de dificuldades de achar alguma parceria masculina interessante ou problemas de saúde, optam pela companhia de cães e gatos.
Os bichos, a semelhança de filhos, ganham uma atenção e mimo excepcional. Estes, a todo instante, constituem-se agradáveis parcerias (para ocupar a mente e o tempo). A solidão, num ambiente cercado de semelhantes, ostenta-se um estresse e flagelo. A companhia animal alivia parte dessa solidão.
Uma moça, a título de exemplo, deparou-se com um tradicional vira-lata (do local de trabalho). Este, abandonado e esfomeado no ambiente urbano, residia no espaço central da cidade. Ela, em função do apego e consideração pela espécie, fez um gesto ímpar.
A moça dirigiu-se a lancheria próxima. Ela, ao amigo cachorro, comprou pastéis como refeição. Um gesto interessante e nobre! A cidadã, há uns metros distantes (na praça principal central), esqueceu-se dum detalhe.
O mendigo, como morador de rua, encontrava-se igualmente esfomeado e esfarrapado! Quem, no final das contas, mereceria maior atenção e mimo? Os animais ou os semelhantes? Animais, para muitos, parecem incomodar menos como gente! A confiança parece maior nos bichos do que nos próprios humanos!
Os exemplos e as práticas externam as crenças e valores. O indivíduo, dentro das possibilidades, precisa estar disponível aos próximos. Um singelo cumprimento e sorriso, no âmbito geral, faz muita diferença e satisfação. Quem não tem suas contradições e incoerências nesta existência?

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano Urbano”

Crédito da imagem: http://www.groupon.com.br

A serpente e a lima


Entrando uma serpente na casa de um ferreiro picou uma lima, e como esta lhe resistisse e fosse dura, com mais força lhe aplicou as presas.
Todavia em vez de conseguir cravá-las, ficaram-lhe elas abaladas, e a boca cheia de sangue.
Então a lima lhe disse:
- O que fazes? Não vês que sou de aço e de boa têmpera! Nem todas as serpentes do mundo me podem fazer mal; inerte lhes resisto, e se persistem, em pouco tempo ficam desdentadas.

Moral da história:
Uma vida honesta e pura é como a lima: por mais que a serpente da calúnia lhe queira cravar as presas, nada consegue.

                     Esopo (Final do século VII a.C. e início do século VI a.C.)

                                                 Crédito da imagem: http://heresiascatolicas.blogspot.com.br


sábado, 13 de abril de 2013

A impossibilidade familiar



Um casal, em meio a uma dezena de hectares de terra, criou nove filhos. Uma esperança para uma velhice abonada e tranquila.
As áreas de encosta, dominadas por roças, levaram a uma penosa labuta braçal. Alguma produção de milho, mandioca e leite permitia a subsistência familiar. Os poucos reais, numas décadas de vivência, viam-se cuidadosamente contados e investidos. Quaisquer dispêndios e imprevistos levariam ao endividamento e ruína financeira.
A família, com “uma escadinha de filhos”, foi sobrevivendo as dificuldades. Esta, numa época, desdobrou-se para atender as muitas necessidades. Os rebentos, com as possibilidades mínimas de educação e formação profissional, conheceram logo a iniciação ao trabalho. Os anos escolares foram restritos a escola comunitária. Eventuais possibilidades, duma educação fundamental, secundária e superior, decorriam do esforço pessoal de cada interessado.
Os rebentos, diante das carências de toda ordem, empregaram-se nas cidades como autodidatas. Eles labutaram e trataram de namorar. A constituição de famílias foi rápida e prevista. Os pais, com a aposentadoria rural, seguiram os filhos (para o ambiente urbano). O singelo lote acabou comercializado e a maioria da área viu-se retomado pelo brejo e mato.
A velhice trouxe a triste sina da realidade da sociedade contemporânea. Os filhos, com seus próprios rebentos, não possuem tempo. Eles necessitam dedicar-se a profissão e ganhar a sobrevivência.  Estes tem carência de tempo para cuidar dos idosos pais. Os genitores, agora anciões, não tem como serem cuidados por algum herdeiro.
 Os familiares obrigam-se a pagar estranhos para cuidar dos genitores. Eles, aos trancos e barrancos, criaram nove. Pai e mãe esperavam de algum descendente cuidá-los na penúria da existência. A alternativa consistiu em improvisar até a chegada do derradeiro!
O indivíduo nunca sabe do infortúnio no aguardo da esquina. Certos exemplos falam por si só como ensinamentos. Os fracassos familiares, com as preocupações excessivas em ganhar dinheiro, tem sido uma realidade social.

Guido Lang
“Singelas da Existência”

Crédito da imagem:http://www.turismo.rs.gov.br