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quarta-feira, 10 de abril de 2013

A rã e o rato



Um rato desejava atravessar um rio; porém tinha medo, pois não sabia nadar. Uma rã ofereceu-lhe os seus serviços, pronta a levá-lo para outra banda, se quisesse amarrar-se com ela. 
O rato aceitou a proposta, e com um cordel amarrou uma das suas patas, e atou na outra ponta à pata da rã. Entraram na água; a maliciosa rã, escarnecendo do companheiro, procurava, mergulhando, puxá-lo para o fundo e afogá-lo.
O rato forcejava em resistir-lhe. Estavam nessa luta quando vem voando um gavião, pega-os e de ambos faz seu almoço.

Moral da história:
Raramente os maus triunfam: se conseguem prejudicar os bons que neles se fiam, acham logo outro mau que os castiga.


                             Esopo (Final do século VII a.C. e início do século VI a.C.)

                                              Crédito da imagem: http://laramagalhaesilva.blogspot.com.br

terça-feira, 9 de abril de 2013

O espremer dos centavos



Um cidadão, dono de atelier, emprega uma dúzia de funcionários.
Os empregados, contratados de forma temporária, deixam-no “ver navios” (em diversos momentos e situações). Eles, na hora do recebimento, encontram-se cedo na sua porta: querem e precisam receber o deles.
O proprietário, numa dificuldade financeira ou falta de qualidade nas tarefas, não recebe contrapartida em cortesias e mimos. Este desconhece de ouvir frases: “- Ah! Não precisa pagar!”, “- Tem desconto pela falta de qualidade”, “- Pode pagar na outra semana”... Uma realidade inexistente nas relações sociais e trabalhistas.
A labuta, na linha de confecção dos calçados (em consequência), não tem moleza ou piedade. A produção, nos horários próprios das jornadas, precisa fluir e render! Nada de maiores conversas, demoras nos banheiros, olhares estendidos à rua...  Cochilos ou demoras, como forma de desperdício de minutos ou segundos, conhecem massivas cobranças e repreensões!
Os centavos e reais, dispendido em salários, necessitam de árdua retribuição em suor e trabalho. Uma matemática financeira difícil, a cada final de mês, consiste em dar conta dos muitos e vultosos dispêndios e encargos. O patrão, como empresário, ainda precisa fazer sobrar divisas aos investimentos e reinvestimentos! As esteiras de produção, de forma escamoteada, são uma “espécie de escravidão” assim como o proprietário com suas muitas obrigações.
Negócios são negócios e amizade à parte nas relações profissionais! As sobras, em quaisquer atividades, ostentam-se uma margem estreita nos resultados finais. A sobrevivência, na selva de pedra, revela-se acirrada e suada para quaisquer trabalhadores!
                                                                                                     
Guido Lang
“Singelas Crônicas do Cotidiano da Existência”

Crédito da imagem:http://www.jornaldedomingo.com.br 

Os membros e o estômago


As mãos e os pés revoltaram-se um dia.
- Trabalhamos tanto, estamos em contínuo lidar e tudo é em proveito do estômago, que aí fica folgado, empregando em vantagem sua quanto adquirimos. Queremos folgar e viva o estômago como puder.
O estômago ficou em jejum; mas logo todo o corpo caiu em debilidade. Braços, pernas, pés e mãos foram dos primeiros a sentir um entorpecimento. Compreenderam que iam morrendo; voltaram então ao seu antigo ofício, e dentro em pouco, graças ao condescendente estômago, se acharam restituídos à antiga robustez.

Moral da história:
Todos somos membros de um vasto corpo, que é a sociedade; cada um exerce funções especiais, mais altas, mais humildes, porém todas indispensáveis para a prosperidade e a existência humana.

                 Esopo (Final do século VII a.C. e início do século VI a.C.)

                                                   Crédito da imagem: http://revistavivasaude.uol.com.br

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Um interesse velado



Um motorista estaciona o veículo numa via! Alguma larga rua adjacente ao centro!
O perigo, no retorno do expediente dos negócios e trabalho, consiste em não encontrar o carro. Os roubos e sumiços, nas cidades, são cada vez mais frequentes e maiores. Quadrilhas, como meio de sobrevivência, especializaram-se nessas atividades ilícitas.
Um conhecido, deparando-se com o estacionamento em logradouro público, interroga surpreso o condutor:
- Você deixa o carro parado na rua?  Quê mimo e oferta aos ladrões? Muitos são os exemplos e histórias de roubos por aqui!”
O cidadão, num misto de decepção e desabafo, rebate as declarações:
- Quê é melhor? Entregar aos bandidos ou repassar o patrimônio aos estacionamentos? Uma gama de gente, como guardas, polícias, seguranças e seguradores, vivem desses marginais! Como obteriam os polpudos ganhos (sem a generalizada bandidagem e ladroagem)?
O indivíduo, de quaisquer forma (de uma maneira ou outra), vai repassando o suado dinheiro! Os bens não passam de meros empréstimos! O camarada cuida aqui e acolá, porém vê-se surrupiado de inúmeras formas e maneiras! A coisa sempre estoura no coitado e desprotegido. Apelar a quem nesta altura?
A má gerência dos recursos públicos, por sucessivas administrações, leva a falta de serviços básicos e de má qualidade. “O cidadão paga impostos de primeiro mundo e recebe serviços de terceiro!” Autoridades carecem de vontade política para tomar atitudes severas com razão de inibir e reprimir!
Os riscos existem em quaisquer atividades e profissões. Os humanos, por ganância ou malandragens, criam os aborrecimentos e flagelos. O ilícito, como praga social, revela-se uma infeliz atividade econômica. Infelizmente, a morte de uns é o sustento de outros!

                                                                            Guido Lang
                                            “Singelas Crônicas do Cotidiano da Existência”

Crédito da imagem:http://downloads.open4group.com 

O leão velho


Um leão jazia enfermo e velho na floresta. Quando moço, havia sido o terror do local. Apareceu ali um javali, e, para vingar-se da antiga perseguição, deu-lhe uma focinhada, e foi-se; após o javali veio um touro; seguiram-se outros animais e cada qual se desforrava a seu modo.
O leão sofria calado. Veio por fim um burro e deu-lhe um coice. O leão não pôde conter-se.
- Até aqui sofri resignado – Disse. - E a quantos insultos recebia opunha a lembrança do que tinha sido outrora, quando até do meu rugido todos esses tremiam. Mas agora tu também, até tu miserável burro? Isto é morrer duas vezes!

Moral da história:
Quando a desgraça acomete um homem, não falta quem venha com ele ajustar contas.

                     Esopo (Final do século VII a.C. e início do século VI a.C.)

                                        Crédito da imagem: http://agnaldonoespelho.blogspot.com.br

domingo, 7 de abril de 2013

O teste das aparências


As obras de construção estendem-se entre avenidas e ruas. Inúmeras edificações e reformulações absorvem uma gama de trabalhadores. A engrenagem econômica vê-se em movimento neste processo. A cada quarto de século constrói-se cidades novas em cima das velhas.
Os muitos pedreiros, com seus auxiliares, debruçam-se em jornadas estafantes e prolongadas. Estes, em aparentes infindáveis horas e dias, ficam atarefados no preparo de cimentos, ferros, madeiras, pedras... O bom senso, em inúmeras situações, manda aliviar-se dessas maçantes jornadas e tarefas.
Umas poucas distrações, entre cubículos e paredes, consistem em agradáveis conversas entre colegas, sintonias musicais em estações de rádios, visões esporádicas sobre o fluxo urbano (de pedestres e veículos nas cercanias)... As alturas, num visual panorâmico, permitem apreciar cenários e paisagens ímpares. Quaisquer anormalidades e presenças mostram-se um chamarisco (a atenta contemplação e observação).
Um tradicional colírio, aos alheios olhos, relaciona-se a passagem de presenças femininas. Algumas moças/senhoras caminham pelas vias próximas as obras. Estas costumam mexer com os brios e sonhos masculinos. A mulherada, neste ínterim, depara-se com a criteriosa e efetiva avaliação/prova nas suas aparências.
Os construtores, de forma velada, “colocam o olho ou implicam com as pedestres”. “O mexer” significa os dotes femininos apurados e palpáveis. A indiferença, a quaisquer damas, representa uma preocupação a mais: fim de carreira de maior beleza e vaidade feminina!
Quaisquer mulheres, como símbolo de beleza e satisfação, precisam ter a autoestima elevada e a admiração masculina. Uma agradável e boa companhia ostenta-se uma dádiva e maravilha. Os espertos acercam-se de gente inteligente e interessante!
                                                                         
Guido Lang
                                       ”Singelos Sucedidos do Cotidiano da Existência”

Crédito da imagem: http://ednene.wordpress.com

O pavão e Deus


Um formoso pavão excitava-se com a beleza das suas penas e a curiosa atenção de alguns homens que o estavam admirando, e que lhe não poupavam elogios.
Súbito ouviram estes o cantar de um rouxinol (pássaro europeu de canto muito lindo), e logo tudo esquecendo, procuram chegar-se para o lugar de onde partia tão suave melodia.
Abandonado, o pavão encheu-se de raiva, e queixoso foi falar com Deus.
- Por que um passarinho, feio e sem graça, cantou melhor do que eu? Por que me não deste a voz do rouxinol? - Perguntou.
- Não sejas ingrato! - Respondeu-lhe Deus. - Cada animal tem suas prendas, nenhum tem tudo; à águia coube a força, ao rouxinol o canto, a ti essa plumagem recamada de estrelas e de esmeraldas; não és dos mais mal contemplados.
- Sim, mas eu queria cantar como um rouxinol! - Retrucou o pavão.

Moral da história:
Poucos se contentam com o que têm, todos invejam o alheio, e assim se fazem desgraçados.

                     Esopo (Final do século VII a.C. e início do século VI a.C.)

                                                            Crédito da imagem: http://www.baixaki.com.br